Plano de paz de Trump: o que prevê para a Faixa de Gaza

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou o seu plano de 20 pontos para pôr fim à guerra na Faixa de Gaza, que ainda tem de ser ratificado entre as partes envolvidas, Israel e o Hamas. O plano norte-americano de 20 pontos, publicado pela Casa Branca, envolve a criação de um comité para supervisionar…
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O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou o seu plano de 20 pontos para pôr fim à guerra na Faixa de Gaza, que ainda tem de ser ratificado entre as partes envolvidas, Israel e o Hamas. O que prevê e as reações de diferentes países.
Líderes

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou o seu plano de 20 pontos para pôr fim à guerra na Faixa de Gaza, que ainda tem de ser ratificado entre as partes envolvidas, Israel e o Hamas.

O plano norte-americano de 20 pontos, publicado pela Casa Branca, envolve a criação de um comité para supervisionar a transição em Gaza, do qual nenhum residente será deslocado à força. Esse comité seria presidido por Donald Trump.

Prevê, nomeadamente, o fim imediato da guerra desencadeada em Gaza pelo ataque do Hamas em 07 de outubro de 2023, uma retirada gradual das forças israelitas e o desarmamento do movimento islamita palestiniano.

O plano inclui a sua presidência de um comité que supervisionará a transição no território palestiniano.

Este plano, no qual a Casa Branca garante que “ninguém será forçado a sair de Gaza”, foi divulgado pouco antes de uma conferência de imprensa conjunta entre o Presidente norte-americano e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

O plano inclui um cessar-fogo na ofensiva israelita, a libertação de todos os reféns e o estabelecimento de um governo de transição supervisionado por uma junta presidida pelo próprio Trump.

Os Estados Unidos comprometem-se também a mediar entre Israel e a Palestina para uma “coexistência pacífica” e abrem caminho para a criação de um Estado palestiniano.

Na proposta de paz, a administração Trump apela ao Hamas para que liberte todos os reféns restantes capturados durante os ataques de 7 de outubro de 2023, em troca da libertação por Israel de “250 prisioneiros condenados a prisão perpétua e 1700 habitantes de Gaza detidos após 7 de outubro de 2023, incluindo todas as mulheres e crianças detidas nesse contexto”. De acordo com a nova proposta, nenhum palestino seria forçado a sair de Gaza e os refugiados teriam permissão para regressar. Os membros do Hamas que depusessem as armas e “se comprometessem com a coexistência pacífica” também teriam permissão para voltaer, segundo a política — mas a fação islâmica não teria nenhum papel futuro no governo do território.

“Propostas de investimento ponderadas e ideias de desenvolvimento empolgantes”

O plano de paz também prevê um “plano de desenvolvimento económico de Trump para reconstruir e dinamizar Gaza”. A proposta política inclui poucos detalhes concretos sobre o que isso implicaria, mas observa que envolveria um painel de especialistas para analisar “propostas de investimento ponderadas e ideias de desenvolvimento empolgantes” propostas por outros grupos internacionais.

Também estabeleceria uma “Força Internacional de Estabilização” que avaliaria uma força policial para o território e trabalharia para proteger as suas fronteiras com Israel e o Egito. Israel, por sua vez, concordaria em não ocupar ou anexar Gaza, e Netanyahu confirmou que as forças armadas de seu país se retirariam do território. No entanto, o primeiro-ministro também disse que as forças israelenses “permaneceriam no perímetro de segurança num futuro previsível”.

Portugal manifesta apoio ao plano de Trump para fim da guerra em Gaza

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, saudou o plano do Presidente norte-americano, Donald Trump, para terminar com a guerra em Gaza, garantindo que Portugal apoia a iniciativa que “pode ser o ponto de partida para uma paz justa e duradoura”.

“Saúdo a iniciativa do Presidente Donald Trump para acabar com a guerra em Gaza, que concretiza princípios sempre apoiados por Portugal. A abertura do primeiro-ministro israelita, o envolvimento de parceiros árabes e europeus, a recetividade da comunidade internacional são sinais de esperança”, destacou o primeiro-ministro português, numa nota na rede social X.

Luís Montenegro acrescentou que Portugal “apoia esta iniciativa, que pode ser o ponto de partida para uma paz justa e duradoura para ambos os povos”.

Costa pede que se aproveite “oportunidade genuína” para a paz em Gaza

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, saudou o plano do Presidente norte-americano, Donald Trump, para terminar com a guerra em Gaza, instando todas as partes a “aproveitar este momento para dar uma oportunidade genuína à paz”.

“Saúdo o plano do Presidente Donald Trump de pôr fim à guerra em Gaza e sinto-me encorajado pela resposta positiva do primeiro-ministro [de Israel], Benjamim Netanyahu. Todas as partes devem aproveitar este momento para dar uma oportunidade genuína à paz”, frisou o português, numa nota na rede social X.

António Costa alertou ainda que “a situação em Gaza é intolerável” e que “as hostilidades devem cessar e todos os reféns devem ser libertados imediatamente”.

“Os povos israelita e palestiniano merecem viver lado a lado, em paz e em segurança, livres de violência e terrorismo. Uma solução de dois Estados continua a ser o único caminho viável para uma paz justa e duradoura no Médio Oriente”, defendeu.

Emmanuel Macron saúda “compromisso” de Trump

Também o Presidente francês, Emmanuel Macron, saudou o “compromisso” de Donald Trump em “encerrar a guerra em Gaza e garantir a libertação de todos os reféns”, em resposta ao importante plano de paz proposto pelo presidente norte-americano.

“Espero que Israel se comprometa resolutamente com base nisto. O Hamas não tem outra escolha senão libertar imediatamente todos os reféns e seguir este plano”, realçou o chefe de Estado francês no X.

“Estes elementos devem permitir discussões aprofundadas com todos os parceiros relevantes para construir uma paz duradoura na região”, acrescentou, prometendo que a França estaria “vigilante em relação aos compromissos de cada parte”.

Reação de outros países

Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Turquia, Indonésia e Paquistão saudaram o plano de paz para Gaza de Trump.

Numa declaração conjunta, os oito países “elogiam o papel do Presidente dos EUA e os seus sinceros esforços para pôr fim à guerra em Gaza” e “afirmam a sua disponibilidade para se envolverem de forma positiva e construtiva com os Estados Unidos e as partes interessadas para finalizar o acordo e garantir a sua implementação”.

Israel diz que levará “tarefa até ao fim” se Hamas não aceitar

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, manifestou apoio ao plano do Presidente norte-americano, Donald Trump, para Gaza, mas condicionou-o a mudanças “radicais” na Autoridade Palestiniana (AP) e deixando também ameaças: se o Hamas não aceitar o plano de Trump, Israel irá “levar a tarefa até ao fim” em Gaza, que invadiu na sequência do ataque do Hamas, com o objetivo de erradicar este movimento desde 2007 no poder no enclave, disse Netanyahu.

Para Netanyahu, mesmo a AP – mais moderada e que governa na Cisjordânia ocupada – não terá “qualquer papel a desempenhar” em Gaza sem mudanças “radicais”.

Segundo o primeiro-ministro israelita, ao abrigo do plano Israel irá manter “responsabilidade de segurança” em Gaza.

A apresentação do plano por Trum foi feito na Casa Branca na presença de Netanyahu, com o líder israelita a comentar perante o presidente dos EUA: “Se o Hamas rejeitar o seu plano, senhor Presidente – ou se disser que o aceita, mas fizer tudo o que estiver ao seu alcance para o bloquear – Israel levará por si só a tarefa até ao fim”, acrescentou o primeiro-ministro israelita da Casa Branca. “Isto pode ser feito da maneira fácil ou da maneira difícil, mas será feito”, sublinhou.

Trump afirmou esperar que o Hamas aceite o seu plano de paz, e que, caso não o faça, Israel “tem o total apoio” de Washington para tomar medidas para derrotar o Hamas.

Ao lado de Netanyahu, Trump agradeceu-lhe também por “ter aceitado” o seu plano de 20 pontos para Gaza, que prevê que o líder norte-americano presida a uma comissão para supervisionar a transição naquele enclave palestiniano e segundo o qual, se for adotado, “ninguém será obrigado a abandonar Gaza”.

“Obrigado por aceitar este plano para pôr fim (…) à destruição a que há tanto tempo assistimos”, disse Trump ao chefe do Governo israelita.

O Presidente norte-americano garantiu que “todos”, exceto o grupo islamita palestiniano Hamas, aprovaram o seu plano nesta fase, afirmando esperar agora que aquele movimento, desde 2007 no poder na Faixa de Gaza, aceite também o seu plano de paz.

“Tenho a sensação de que vamos ter uma resposta positiva” do Hamas, acrescentou.

Caso tal não aconteça, Trump sublinhou que Israel “tem o total apoio” de Washington para tomar medidas para derrotar o Hamas, que desencadeou a guerra em Gaza ao realizar, a 07 de outubro de 2023, um ataque de proporções sem precedentes em território israelita, matando 1.200 pessoas e sequestrando 251.

Hamas analisa plano

Por seu lado, o primeiro-ministro do Qatar, Mohamed bin Abdulrahman al-Thani, e o chefe dos serviços de informação egípcios, Hassan Mahmoud Rashad, já reuniram com os negociadores do Hamas e apresentaram-lhes o plano”, segundo fonte ligada ao processo citada pela AFP.

“Os negociadores do Hamas disseram que o iriam examinar de boa-fé e responder”, acrescentou a mesma fonte.

Se o Hamas concordar com o plano de paz, Israel retirará da Faixa de Gaza “por etapas”, indicou Trump.

“Em colaboração com a nova autoridade de transição em Gaza, todas as partes concordarão com um calendário para a retirada gradual das forças israelitas”, anunciou o Presidente norte-americano.

Fórum das Famílias de reféns de Israel pede “pressão máxima” sobre Hamas para aceitar plano Trump

O Fórum das Famílias, a principal organização israelita de familiares de reféns detidos em Gaza, saudou o plano de paz americano para Gaza e apelou à comunidade internacional para pressionar o Hamas a aceitá-lo.

“Trata-se de um acordo histórico que permitirá ao nosso povo curar-se, pôr fim à guerra e traçar um novo futuro para o Médio Oriente”, declarou o Fórum das Famílias de Reféns num comunicado.

“O mundo deve exercer a máxima pressão para assegurar que o Hamas aproveite esta oportunidade histórica de paz”, acrescentou.

Antes do encontro entre presidente dos EUA e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, os familiares dos reféns mantidos na Faixa de Gaza tinham enviado uma carta a Donald Trump pedindo-lhe para “manter-se firme” no seu compromisso de pôr fim à guerra durante o seu encontro de com o chefe do executivo de Israel.

“Pedimos respeitosamente que se mantenha firme face a qualquer tentativa de sabotar o acordo que propôs”, escreveu o Fórum das Famílias, a principal organização que representa os familiares dos reféns, antes do encontro entre o primeiro-ministro israelita e o Chefe de Estados norte-americano.

“Os riscos são demasiado grandes e as nossas famílias esperaram tempo demais para que interferências prejudiquem estes avanços”, acrescentou.

Donald Trump deu a entender que uma rutura nas negociações para o cessar-fogo estava iminente, com base num plano de 21 pontos apresentado a dirigentes árabes e muçulmanos à margem da Assembleia Geral da ONU, na semana passada.

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, há quase dois anos, o Fórum já acusou Netanyahu de ter “sabotado” mais propostas de cessar-fogo.

As famílias dos reféns pediram a Donald Trump que pressionasse Netanyahu para que o primeiro-ministro israelita pare a sua campanha.

Tony Blair deverá integrar comité que irá supervisionar transição em Gaza

Já o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair, que deverá integrar o comité que irá supervisionar a transição em Gaza, presidido por Donald Trump, elogiou o plano “ousado e inteligente” anunciado pelo Presidente norte-americano.

Este plano “oferece-nos a melhor hipótese de pôr fim a dois anos de guerra”, destacou Tony Blair em comunicado, agradecendo a Donald Trump pela sua “liderança e determinação”.

Guerra desencadeada por ataque terrorista

O plano visa pôr termo à guerra em curso na Faixa de Gaza, desencadeada pelo ataque do grupo extremista palestiniano Hamas no sul de Israel em 07 de outubro de 2023. O ataque do Hamas causou a morte de mais de 1.200 pessoas e 251 reféns, segundo as autoridades israelitas. A ofensiva israelita que se seguiu em Gaza provocou mais de 66.000 mortos, de acordo com o Ministério da Saúde do governo do Hamas, cujos dados são considerados fiáveis pela ONU.

Situação humanitária dramática

Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” e “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.

Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.

Atualmente, está em curso a tomada da cidade de Gaza, mais uma deslocação forçada dos habitantes para fora da cidade e uma ocupação do território de mais de 80% pelo Exército israelita, que regularmente abre fogo sobre “zonas humanitárias”, classificadas como “seguras”, e sobre civis famintos que se dirigem aos locais onde víveres são distribuídos a conta-gotas, após um bloqueio humanitário total de mais de dois meses.

com Lusa e ByZachary Folk/Forbes Internacional

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