Pela segunda vez, no espaço de uma semana, Lisboa ficou inundada e caótica. Engarrafamentos no trânsito, estradas alagadas, vias interrompidas, escolas fechadas, serviços perturbados, estabelecimentos e habitações cheias de água, muros caídos, carros danificados, transportes afetados… o rosário de destruição é infindável e volta a trazer à baila o plano de drenagem de Lisboa, previsto há muito (em março de 2008 foi quando foi, pela primeira vez, votado em reunião de Câmara), mas ainda não concretizado.
A Câmara Municipal de Lisboa chama o projeto de “a obra invisível que prepara a cidade para o futuro” e, considerando que continua a não existir, o título é bastante apropriado.
Mas, afinal, em que consiste este projeto de drenagem de Lisboa e quanto custa fazer?
De acordo com a Câmara Municipal de Lisboa, o Plano Geral de Drenagem de Lisboa “prepara a cidade para os eventos extremos provocados pelas alterações climáticas”, reduzindo “significativamente as inundações e cheias e os consequentes custos sociais e económicos”.
A obra inclui, entre outros a construção de bacias de retenção/infiltração e trincheiras drenantes e transvase de bacias que têm subjacente dois túneis com diâmetro interno de 5,5 metros e extensão total de cerca de 6 km.
Os túneis são compostos por dois percursos: Monsanto – Santa Apolónia (TMSA) e Chelas -Beato (TCB).
Os túneis têm 5,5 metros de diâmetro interno e desenvolvem-se a uma profundidade média de 30-40 metros, muito abaixo das edificações da cidade (apenas em três zonas de atravessamento de vales na cidade e junto ao rio essa profundidade é menor).
Estes túneis irão captar a água recolhida nos dois pontos altos (Monsanto e Chelas), bem como em pontos adicionais de captação, ao longo do seu percurso, nomeadamente Av. da Liberdade, Sta. Marta e Av. Almirante Reis, conduzindo todo esse volume de água ao rio (Sta. Apolónia e Beato). Desta forma é desviada a água que provocaria cheias e inundações, nos locais críticos de Lisboa, em picos de chuva.
O Túnel Monsanto – Santa Apolónia terá cerca de 5 km de extensão.
O Túnel Chelas – Beato terá cerca de 1 km.
Os túneis de drenagem de Lisboa foram adjudicados ao consórcio Mota-Engil e Spie Batignoll. O prazo para a sua construção é de 1140 dias, o que, na expectativa da câmara, fará com a obra fique pronta no 1º trimestre de 2025.
Se consideramos que o projeto vem de 2008, serão 17 anos para finalizar uma obra crítica para a principal cidade portuguesa. Isto se não houver derrapagens…
Em termos de valores, os túneis representam 132,9 milhões de euros + IVA, mas o valor total do investimento é cerca de 250 M€, metade dos quais financiado por empréstimo do BEI.
Completar ciclo da água, com aproveitamento de águas
O sistema irá criar ainda “a infraestrutura que permite a reutilização de águas para lavagem de ruas, regas de espaços verdes e reforço de redes de incêndio”.
Isto será possível porque, nos túneis, será construída tubagem que conduzirá a água reciclada (das fábricas de água até às bacias antipoluição em sentido inverso ao da drenagem).
Esta água reciclada será reservada em depósitos independentes, dentro das bacias antipoluição que por sua vez alimentarão os marcos de água reciclada a instalar na cidade (estruturas de cor roxa, distintas dos atuais hidrantes vermelhos, abastecidos com água potável).