A Penske Media Corporation (PMC), a gigante editora norte-americana de publicações como Rolling Stone, The Hollywood Reporter, Billboard e Variety, tornou-se agora na primeira grande empresa de media a processar a Google por alegadamente prejudicar o tráfego dos sites da PMC e fazer-se beneficiar ilegalmente do trabalho dos seus jornalistas. Em causa estão os resumos gerados por inteligência artificial (IA) que aparecem no topo dos resultados de pesquisa no Google, conhecidos como “AI Overviews”, quando os utilizadores procuram informação online.

No momento em que é realizada uma pesquisa no motor de busca, a ferramenta de IA da Google gera, numa questão de segundos, um sumário com informação retirada diretamente de várias fontes da internet sobre o tema pesquisado. Segundo a editora PMC, ao apresentar ao utilizador uma resposta “pronta” e baseada nos conteúdos disponíveis online, vários visitantes deixam de sentir a necessidade de carregar diretamente nos links originais dos sites de onde a informação é retirada pela Google. É de notar que cada vez que um utilizador carrega no link de um site, ou em links dentro do mesmo, sejam estes hiperligações patrocinadas que direcionam o leitor para produtos ou serviços de uma empresa parceira, a plataforma digital que os publica recebe uma comissão por redirecionar consumidores para as páginas web da entidade aliada. Esta é uma das formas de monetização mais comum das revistas digitais, pela publicidade que fazem chegar a potenciais clientes destas empresas.
De acordo com a informação partilhada pela PMC, a editora sofreu uma queda superior a 33% na receita proveniente de links afiliados desde a introdução dos resumos de IA no motor de busca, em 2024. Um decréscimo correspondente a cerca de um terço dos lucros normalmente obtidos. A PMC alega ainda que a Google está a utilizar indevidamente o conteúdo das plataformas de várias das suas publicações para treinar os seus modelos de IA, sem autorização ou qualquer compensação financeira pelos danos causados à editora.
Segundo a PMC, a situação não só ameaça os direitos de autor dos jornalistas, como a própria sustentabilidade das publicações digitais, que sobrevivem de leitores e visitas “orgânicas” para gerar receitas através de publicidade e parcerias comerciais. Jay Penske, CEO do grupo, sublinha que a queda no tráfego online tem tido um enorme e direto impacto nos modelos de negócio das revistas e na capacidade destas em investir e manter jornalismo de qualidade.

Como agravante, a editora norte-americana declarou publicamente que a Google está a condicionar a presença dos conteúdos das suas revistas no motor de busca à sua autorização para utilização nos resumos de IA. A PMC considera a prática profundamente abusiva, sobretudo tendo em conta que a Google detém quase 90% do mercado de pesquisas online.
Em resposta às acusações da PMC, a Google defendeu que os resumos de IA disponibilizados aos seus utilizadores têm como objetivo facilitar a experiência de leitura online, com as suas respostas “rápidas e curtas”. Acrescentou ainda que a ferramenta AI Overviews identifica os links das diferentes fontes do conteúdo apresentado, argumentando que, ao contrário das acusações da PMC, o motor de busca não está a prejudicar os media, mas sim a dar visibilidade ao trabalho de vários jornalistas de diversas publicações digitais, incluindo aquelas menos conhecidas.
É de notar que, nos últimos três anos, várias revistas digitais têm publicamente declarado descidas de até 50% no número total de visitas nos seus sites, o que obrigou editores de grandes publicações como o HuffPost e o Washington Post, a repensar nas suas estratégias de SEO e modelos de monetização. Várias têm sido as alterações profundas na forma como a informação digital é consumida, incluindo a crescente preferência por conteúdos resumidos, o papel das redes sociais na distribuição de notícias e a atenção cada vez mais fragmentada dos leitores, fatores que exigem adaptações constantes por parte dos meios de comunicação.