Entrar em Óbidos é como entrar numa máquina do tempo. Lá dentro depende da imaginação de cada um, mas todos recuam alguns séculos e conhecem a realidade de outros tempos que foi preservada em muitos recantos da vila.
Por esta altura Óbidos já é Vila Natal, mas a motivação deste passeio é algo que, não sendo da época, não deixa de lhe estar associado: os livros. A Porta da Vila, finalizada por volta de 1380, recebo-o e dá-lhe os primeiros sinais de que chegou a uma outra época: a música, os trajes e um oratório construído no século xvii.
Capítulo I – Vila Literária
Chegou à Rua Direita e sim, não só pode como deve provar a ginjinha de Óbidos que consegue facilmente encontrar em diversos estabelecimentos comerciais. O percurso literário começa aqui – ainda que haja oferta fora das muralhas, como a Livraria da Adega – e é a meio da rua que está um dos principais espaços deste projecto: a Livraria do Mercado Biológico. As paredes do edifício do antigo mercado de Óbidos estão preenchidas com caixas de fruta que foram reutilizadas para servirem de estantes para os livros.
Aqui pode encontrar um saco de feijão verde ou um poema de Cesário Verde. Ao fundo da rua, junto à entrada do Castelo, a Livraria de Santiago.
Este espaço – que é também a Igreja de São Tiago – foi o grande impulsionador de todo o projecto Vila Literária: foi ao entrar no concurso público da igreja que a organização propôs a ideia. É uma livraria generalista que não perdeu os traços de igreja, apesar de terem sido retiradas todas as figuras religiosas e de já não ser usada como espaço de culto. Aqui, além de comprar livros, poderá assistir a filmes, debates, apresentação de obras e exposições. A Galeria Nova Ogiva, o Museu Municipal ou o Museu Abílio de Mattos e Silva são outros espaços que pode visitar e fazem parte deste circuito.
Para um final de tarde perfeito, aconselhamos que suba à muralha e a percorra enquanto disfruta da paisagem de Óbidos, concelho. O castelo, de origem romana, já pertenceu a árabes e cristãos e já foi diversas vezes ampliado e melhorado: como no século xx, quando estava em total ruína e foi recuperado para se instalar a Pousada de Portugal que ainda hoje lá mora – a primeira num edifício histórico.
Capítulo II – Hotel Literário
A experiência continua fora das muralhas onde encontra o hotel The Literary Man inaugurado há dois anos. Quem olha por fora não imagina o que está no interior: são cerca de 65 mil exemplares de livros expostos nas paredes e distribuídos pelos quartos que o convidam à leitura e ao sossego. O edifício era um antigo convento, construído no início do século xix, e que mantém muitos dos traços dessa altura. As maiores heranças conventuais são as duas grandes lareiras, no Book & Cook – uma espécie de cozinha onde é servido o pequeno-almoço – e no restaurante, que prometem aquecer os dias de Inverno e a parede rugosa atrás da estrutura em madeira nos pisos.
Terá à sua disposição quatro tipos de quarto – standard, standard superior, suite deluxe e suite deluxe superior – com cama alta ou baixa, com sofá ou cadeiras, estante, minibar, porta para os espaços exteriores ou não. São todos diferentes, mas há uma coisa presente em qualquer um deles: livros. Entre os milhares de exemplares terá à sua disposição uma colecção adquirida nos 100 anos de Agatha Christie, vários livros de Dan Brown, uma grande colecção da Penguin e os livros que deram origem aos famosos filmes “Twilight” e “Harry Potter”. Caso o frio dê tréguas, poderá também usufruir do espaço exterior – ao qual terá acesso privilegiado se ficar hospedado numa suíte.
Para que este passeio seja um sucesso é preciso não se esquecer de recarregar baterias. O The Literary Man oferece uma vasta ementa com opção de carne, peixe ou vegetariano. Outra hipótese poderá ser o restaurante “Maria Batata”, do Hotel Rio do Prado – unidade hoteleira situada a cerca de quatro quilómetros e que detém a mesma gestão do hotel literário. Caso nenhum destes cenários lhe agrade, basta percorrer as ruas da vila para encontrar uma grande oferta de restaurantes típicos e acolhedores.
Mas não pode deixar o hotel sem uma visita ao Mr. and Mrs. Gin Bar. O único estabelecimento dedicado ao gin em Óbidos lembra o conceito dos speakeasy, criados nos EUA durante a época em que era proibido consumir álcool. É um espaço discreto e calmo onde pode, além de provar os vários gin e ler, realizar um workshop sobre esta bebida.
E mesmo que tenha escolhido ficar alojado num outro lugar, sugerimos que aproveite um dos dias para explorar a paisagem natural da Lagoa de Óbidos – o sistema lagunar costeiro mais extenso da costa portuguesa – e percorrer os campos agrícolas da região Oeste. Faça uma paragem em Peniche – onde tem praia, peixe fresco e muitos surfistas – ou Caldas da Rainha, para conhecer as obras de Rafael Bordallo Pinheiro. Pode ter escolhido ler durante o fim-de-semana ou comprar algumas obras para depois, mas uma coisa é certa: o cheiro a livros que paira por Óbidos não lhe vai sair da memória tão cedo.