Numa palestra sobre os atuais desafios geopolíticos e geoeconómicos globais que impactam a economia nacional, em particular, as dinâmicas empresariais, Paulo Portas abordou a urgência da Europa pensar na inovação e na pesquisa e desenvolvimento, de modo a não perder o lugar da economia do futuro.
Nesta palestra, organizada pela Xerox Portugal, o antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal sublinha que a Europa é, até ao momento, o quarto bloco a apostar e investir na área digital, depois dos Estados Unidos, Japão e da China.
De acordo com a lista das dez maiores empresas de internet do mundo destacada pelo antigo governante na Xerox Corporate Talks, que decorreu no Hotel Eurostars, no Parque das Nações, em Lisboa, seis são americanas e quatro chinesas, pelo que o problema é não haver nenhuma bandeira europeia, concluiu Portas.
Para este especialista em relações internacionais, “devemos centrarmo-nos no que é essencial para a nossa competitividade como continente, gerir bem a questão da demografia e termos uma aposta constante na investigação e desenvolvimento”.
Durante o discurso, Paulo Portas frisou, por isso, a importância de se construir uma política estável, através de uma aliança entre o setor privado e público e entre universidades, capital e tecnologia.
Turismo, ativos, energia e “bazuca” ajudam economia portuguesa em 2023
No evento, Portas também enunciou os quatro fatores de criação de riqueza que vão ajudando a economia portuguesa, com atual défice de capital: turismo, ativos, energia e “bazuca”.
No turismo, Paulo Portas explicou que, a nível de receitas, Portugal está 43% acima de 2019, um número que sofre uma ligeira atenuação do aumento face ao primeiro trimestre deste ano.
Segue-se o facto de existirem muitos estrangeiros a comprar ativos no país, tanto no setor agrícola, como industrial, tecnológico e imobiliário.
O terceiro fator é o mix energético, que já não depende da Rússia, nem do transporte de energia pela Ucrânia, uma vez que os principais fornecedores energéticos de Portugal são a Nigéria e os Estados Unidos. E, finalmente, o peso que tem o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), a chamada “bazuca”, se o país não for capaz de aplicar os fundos – quando não aplicados, perdem-se, o que pesa na formação do PIB português, explicou Paulo Portas.
Estes quatro fatores afetam também diretamente as empresas, uma vez que “não há economia sem empresas”, afirmou Portas, na medida em que as empresas são igualmente o garante da criação de riqueza, de valor acrescentado e de emprego no país.
A imprevisibilidade foi um dos fatores abordados por Paulo Portas para alertar os empresários e gestores presentes na sala, nomeadamente quanto à pandemia da COVID-19 e à guerra na Europa.
“Nós vivemos nos últimos três anos e meio, vamos a caminho de quatro, sob a égide de dois fatores que não eram considerados, nem possíveis, nem prováveis”, contou Paulo Portas.
No entanto, o ano de 2023 corre “melhor do que se previa”. Como explicou o atual comentador, no final do último trimestre do ano passado, previa-se que três das cinco grandes economias da Europa estivessem em contração, mas os dados atuais apontam o Reino Unido como sendo a única em efetivo risco.
“Eu acho que os europeus têm razões para estar menos pessimistas do que no final do ano passado, porque 2023 está a correr ligeiramente melhor do que aquilo que economicamente se previa. Até agora, excetuando o Reino Unido, tudo indica que, em 2023, sem ser um ano esfuziante, será, em todo o caso, menos negativo do que se pensava, e isso é bom”, afirmou o palestrante.