A Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, tem patente “Paula Rego: Mudam-se as histórias, mudam-se os estilos”, uma exposição composta por mais de cem obras, que “revelam o processo criativo” desta artista portuguesa falecida em junho do ano passado.
De acordo com a Casa das Histórias, em comunicado, “através da exposição de mais de uma centena de obras, a mostra descortina o processo criativo de Paula Rego ao longo de sete décadas, para evidenciar como foi capaz de construir um território figurativo único e pessoal, onde as histórias funcionam, desde as suas primeiras criações, como verdadeiras estruturas realistas”.
“Mudam-se as histórias, mudam-se os estilos”, comissariada pela curadora e coordenadora da programação e conservação da Casa das Histórias Paula Rego (CHPR), Catarina Alfaro, apresenta “uma cuidadosa seleção de obras da autoria de Paula Rego”: pinturas e desenhos a óleo, tinta acrílica, guache, aguarela, pastel, lápis de cera e de cor sobre os mais variados suportes, colagens, tapeçaria, serigrafias, água-forte e água-tinta, mas também “cerca de 18 estudos em tinta-da-china sobre papel executados por Paula Rego para algumas das pinturas que viria depois a realizar”.
A CHPR recorda que “as décadas de 1960 e 1970, dentro do panorama da obra de Paula Rego, são caracterizadas pela exploração de práticas experimentais, que estarão na origem da construção do seu universo simbólico particular”.
“Mudam-se as histórias, mudam-se os estilos”, uma iniciativa da Fundação D.Luís I e da Câmara Municipal de Cascais, no âmbito da programação do Bairro dos Museus, estará patente até 31 de março de 2024.
Na mesma época, “Paula Rego reclama a sua autonomia perante os movimentos artísticos do seu tempo, uma especificidade que a sua obra manteria até ao final”.
Nos anos 1980, “esse sentido de liberdade em relação às convenções impostas ao modo de ‘fazer arte’ intensificar-se-ia, resultando numa reformulação do seu processo criativo e no estabelecimento de uma linguagem visual radicalmente nova, para contar as suas histórias através da pintura”.
A partir da década de 1990, o método de trabalho de Paula Rego “tornar-se-ia paulatinamente ainda mais complexo e arrojado, com o uso de modelos vivos ou bonecos tridimensionais, rigorosamente vestidos e posicionados entre objetos e adereços para construir a história e compor tatilmente a cena a ser transportada para a tela”.
As obras apresentadas na exposição fazem parte da Coleção da Câmara Municipal de Cascais – Fundação D. Luís I – CHPR, mas também provêm de “importantes coleções privadas nacionais”.
Em “Mudam-se as histórias, mudam-se os estilos”, o público poderá apreciar obras como “Noite” (1954), “Batalha de Alcácer-Quibir” (1966), “O cerco” (1976), “Os Amantes” (1982), “Madame Butterfly” (c. 1985), “Branca de Neve no cavalo do Príncipe”, (1995), “Príncipe Porco e a sua primeira noiva” (2006), que “evidenciam a personalidade insubmissa de Paula Rego e a sua determinação por uma expressão artística livre de amarras e convenções, que a levaram a uma redefinição constante da sua linguagem figurativa e à criação de telas composicionalmente complexas, que abrangem contextos narrativos e inspirações muitíssimo diversificados”.
Também na Gulbenkian…
Entretanto, é possível ver-se na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, duas das mais celebradas pinturas de Paula Rego que estão expostas pela primeira vez, naquela instituição, para prestar homenagem e assinalar um ano da morte da artista.
As obras “O Anjo” (1998) e “O Banho Turco” (1960) estarão em exposição até ao dia 24 de julho, no átrio da sede da Fundação Calouste Gulbenkian, junto à escadaria principal, com entrada livre.
… e no Centro Cultural de Belém
Já no Centro Cultural de Belém (CCB), também em Lisboa, pode ser visitada, até 10 de setembro, a exposição “Um foco em Paula Rego”, concebida em torno da obra “O Impostor”, adquirida no início do ano pelo Estado para integrar o Museu de Arte Contemporânea MAC/CCB.
A pintura “O Impostor”, que retrata Salazar de forma satírica, foi a primeira obra adquirida pelo Estado para o novo museu sob gestão do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
A pintura a óleo e técnica mista sobre tela foi adquirida pelo Estado por 400 mil euros à família da artista, escolhida por constituir uma referência marcante da trajetória de uma das mais destacadas artistas portuguesas a nível internacional, que morreu em junho de 2022, aos 87 anos.
A exposição patente no CCB integra uma pintura inédita da artista, com outra no verso vinda da década de 1950.
Sobre o quadro inédito, sem título, nunca antes mostrado em público, o curador da mostra e administrador do CCB, Delfim Sardo, disse que se desconhece se a pintura no verso, também sem título, “terá sido rejeitada por Paula Rego”.
O CCB optou por exibir uma fotografia do verso da tela, onde surge deitada uma figura feminina, “antevendo a pintura figurativa muito posterior” aos anos 1950, que os especialistas presumem ser a data da obra, “reconhecível pela semelhança em relação aos desenhos que realizou desde 1953, ainda aluna da Slade School de Londres”.
Na tela exposta, cedida pelas colecionadoras Carolina e Maria Ana Pimenta, surgem várias figuras que também se presumem retiradas de diários de Paula Rego, uma artista cujo universo criativo está “muito marcado pelas ideias de público e privado, e onde as narrativas convocam acontecimentos políticos e de dominação”, apontou o curador.
Lusa