A pintora Paula Rego, uma das mais aclamadas e premiadas artistas portuguesas a nível internacional, morreu na manhã desta quarta-feira em Londres, aos 87 anos, disse à agência Lusa fonte próxima da família.
Paula Rego nasceu a 26 de janeiro de 1935, em Lisboa. Nos anos 50, mudou-se para Londres, onde frequentou a Slade School of Art e onde conheceu o pintor britânico Victor Willing, com o qual se casou em 1959 e com o qual teve três filhos.
Regressou a Portugal em 1957 para viver na Ericeira. A partir de 1962 repartiu o seu tempo entre Portugal e o Reino Unido, fixando-se em Londres, definitivamente, em 1974.
Em 1988, ano da morte de Willing, que sofria de esclerose múltipla, inaugurou a sua primeira exposição a solo, na Serpentine Gallery, em Londres.
Imaginário único
A obra de Paula Rego divide-se entre o desenho, a gravura e a pintura, na qual privilegiou os trabalhos em acrílico.
Nas suas obras iniciais praticou também o pastel e a colagem.
Explicam os especialistas da Casa das Histórias Paula Rego, que “o seu estilo evoluiu rapidamente do abstrato para o figurativo-representacional, servindo narrativas baseadas em obras literárias ou, maioritariamente, em contos populares portugueses, com uma perspetiva crua, de formas robustas e delineadas com absoluta clareza, que evocam, ora o sentimento de culpa católica que a possuiu na infância, ora a convicção feminista que desenvolveu e pela qual militou na vida adulta”.
Imaginário e os contos populares e as recordações de infância serão as suas fontes principais de trabalho, donde extrairá um léxico figurativo próprio.
No seu trabalho, Paula Rego privilegiava uma linguagem figurativa, através da qual compunha cenas surreais, com seres híbridos, com sentido satírico.
O quadro School for Little Witches, de Paula Rego, de 2009, foi vendido em março deste ano, por 415.800 libras (500 mil euros), num leilão em Londres, acima da estimativa da Christie’s.
Em julho de 2015, o quadro “The Cadet and his Sister”, de Paula Rego no qual a pintora aludia à morte do marido, em 1988, foi arrematado num leilão em Londres por 1,6 milhões de euros, estabelecendo um recorde da artista portuguesa.
Em 2021, a Tate, em Londres, recebeu a maior retrospetiva do trabalho da pintora, com mais de 100 obras, incluindo colagens, pinturas, pastéis, desenhos e esquissos, produzidos entre as décadas de 1950 e 2010.
O museu justificou a organização da exposição devido à importância do trabalho de Paula Rego, uma artista “intransigente com um poder imaginativo extraordinário” que revolucionou a forma como as mulheres são representadas nas artes plásticas.
Prémios vários
A artista foi galardoada, entre outros, com o Prémio Turner em 1989, e o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso em 2013.
Foi distinguida com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, em 2004, e com a Medalha de Mérito Cultural, em 2019.
Em 2010, recebeu da Rainha Isabel II a Ordem do Império Britânico com o grau de Oficial pela sua contribuição para as artes.
Em 2009 abriu ao público, em Cascais, a Casa das Histórias Paula Rego, com projeto do arquiteto Eduardo Souto Moura, dedicada ao trabalho da artista e do seu marido, Victor Willing.
“Teve uma projeção muito longa, muito rica e muito prestigiante para Portugal”, comenta Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República.
“É uma artista plástica muito completa, a artista plástica portuguesa com maior projeção no mundo certamente desde que nos deixou Vieira da Silva, há várias décadas. Teve uma projeção muito longa, muito rica e muito prestigiante para Portugal”, comentou Marcelo, Presidente da República que analisará agora com o Primeiro-Ministro como assinalar a perda em termos de luto nacional.