A Bynd Venture Capital investe em start-ups em early-stage nas áreas de Digital B2C e B2B e de sustentabilidade com fortes ligações à Península Ibérica, estando também a alargar o seu foco de investimento à área de blockchain e web3.0. Por este motivo, a equipa acolheu um novo partner especializado neste novo setor. Justin Wu tem uma vasta carreira de empreendedor, tendo fundado a Bepro Network, que foi adquirida pela portuguesa TAIKAI, e a Etherify.io, um estúdio de soluções em blockchain, entre outras.
À FORBES, Justin Wu fala da sua entrada na sociedade de investimento de capital de risco e nas ideias que tem para desenvolver esta área de negócio.
Por que decidiu entrar na Bynd Venture Capital?
A minha relação mais próxima com a Bynd começou em 2019, aquando do investimento na minha primeira empresa – uma startup focada em blockchain que foi um caso de sucesso. Desde então, temos mantido uma relação de proximidade e confiança. Entre 2019 e 2021, ano em que a empresa foi vendida, a Bynd foi crucial na orientação estratégica e na apresentação a outros investidores. Após a venda, fui convidado a juntar-me como Venture Partner e liderar o vertical de investimento em blockchain / Web 3.0. Identifico-me muito com a equipa e o seu modo de trabalhar e vejo que posso acrescentar valor com o meu conhecimento e experiência nestas áreas, pelo que foi uma decisão muito natural.
O seu foco de investimento será canalizado para a área de blockchain e Web 3.0. Porquê Portugal?
Portugal tem atraído muito talento em blockchain e Web 3.0 ao longo dos anos, destacando-se a nível internacional pelo potencial do seu ecossistema de empreendedorismo, pela qualidade de vida, clima e segurança, e pelas políticas fiscais favoráveis aos investidores em cripto. Esta tendência acentuou-se durante a pandemia, quando muitas pessoas na área tecnológica ficaram em teletrabalho e aproveitaram o tempo disponível para descobrir e ler sobre o mundo das criptomoedas, acabando, eventualmente, por se tornarem investidores.
O ecossistema de cripto e Web 3.0 está cada vez mais dinâmico em Portugal. Há cada vez mais conferências e eventos de blockchain que começaram a ser realizados em Lisboa e, posteriormente no Porto, e os participantes começaram a fazer planos para ficar definitivamente.
Adicionalmente, o talento tecnológico em Portugal, resultado da qualidade das universidades técnicas, está cada vez mais inclinado a entrar no mundo da Web 3.0 e a lançar as suas próprias startups, em vez de ir para empresas mais tradicionais de tecnologia de Web 2.0. Há um forte espírito empreendedor nestes jovens, o que é muito promissor para o ecossistema global.
“O talento tecnológico em Portugal está cada vez mais inclinado a entrar no mundo da Web 3.0, em vez de ir para empresas mais tradicionais de Web 2.0”.
Em que nível está Portugal nesta nova área?
Portugal é já uma referência em Web 3.0, devido ao talento que vive atualmente no país. Esta é uma enorme vantagem que temos sobre outros países, porque as pessoas querem realmente mudar-se do estrangeiro para cá, como resultado dos incentivos fiscais favoráveis, do bom clima e do elevado nível de fluência geral em inglês entre a população local. Também temos de ter em conta a Web Summit, que atrai por si só muitas pessoas relacionadas com o setor tecnológico no geral, e não apenas de Web 3.0. Esta cimeira é relevante, não apenas pela exposição que dá a Portugal a nível internacional, mas também pela dinâmica que gera – vários eventos mais pequenos e mais focados tendem a agrupar-se em torno desta conferência. Este ano, por exemplo, houve várias grandes conferências de blockchain nas semanas que antecederam e que se seguiram à Web Summit em Lisboa.
Contudo, tal como acontece com outros estados membros da União Europeia, Portugal também enfrenta um certo nível de incerteza quando se trata de regulação no espaço de Web 3.0. O novo quadro MiCA (regulamentação dos mercados de criptoativos) deve ter o propósito de clarificar esta incerteza e permitir que as startups nacionais operem com mais confiança.
Qual o potencial que identifica em relação a Portugal em termos de blockchain e web3.0?
Por uma confluência de razões, Lisboa tornou-se num dos principais hubs no mundo para empresas e eventos de blockchain. Ethereum, Solana e Near Foundation organizam anualmente os seus eventos em Lisboa, e têm membros da sua equipa de gestão a viver aqui.
O governo deve estudar os motivos pelos quais estas pessoas decidiram mudar-se, viver e trabalhar aqui, e criar as condições para permanecerem, pois estão a gerar muitos postos de trabalho e riqueza a nível local. O novo regime de Nómadas Digitais é um passo na direção certa, mas é necessário que haja mais clareza do ponto de vista regulatório, ou se desenvolvam medidas que permitam atrair mais talento.
“O governo deve criar as condições para [estas pessoas] permanecerem, pois estão a gerar muitos postos de trabalho e riqueza a nível local”
O facto de a Bynd Venture Capital ser uma sociedade de investimento de capital de risco com enfoque grande em startups com fortes ligações à Península Ibérica, podemos esperar um volume maior de investimentos para Portugal ou para Espanha?
A estratégia de investimento da Bynd recai sobre encontrar os melhores projetos nas áreas de Digital (B2C e B2B), Sustentabilidade e Web 3.0 que tenham uma forte relação com o mercado ibérico. Mais do que à geografia específica, queremos valorizar as soluções mais promissoras. Temos conseguido obter um equilíbrio entre startups portuguesas e espanholas no nosso portefólio e vemos uma grande vantagem neste equilíbrio, pelo que é o que continuaremos a procurar ter. Na área de blockchain e Web 3.0, a grande maioria das nossas oportunidades de investimento vai ter origem na Ibéria e, independentemente de qualquer país, sobretudo vamos continuar a privilegiar a qualidade, o alinhamento com os nossos valores e cultura e com a nossa tese de investimento.
Já há startups que estão na sua mira para investir? Quais?
Já estamos em processo de análise de investimento, sendo que, em blockchain, temos um foco em projetos relacionados com Decentralised Finance (DeFi), NFTs e infraestrutura. Com o desenvolvimento e o ganhar de maturidade da indústria de Web 3.0, estamos a ver menos “projetos” e mais “produtos” dentro deste espaço. Ou seja, há cada vez mais empresas a criar produtos para necessidades existentes na indústria, em vez de tentar reinventar a roda ou criar mais um concorrente da Ethereum.
Um exemplo disto é o crescimento dos agregadores, que organizam dados não estruturados e espalhados em vários sítios, e apresentam-nos numa só página, tornando estes dados legíveis ao olho humano. Antes, uma pessoa precisava de abrir vários sites para encontrar os dados mais atualizados sobre a negociação de NTFs, por exemplo. Agora, temos agregadores que encontram esta informação e apresentam-na de forma organizada. A Bynd está a procurar cada vez mais estes produtos que realmente estão a preencher uma necessidade na indústria.
“Há cada vez mais empresas a criar produtos para necessidades existentes na indústria, em vez de tentar reinventar a roda ou criar mais um concorrente da Ethereum”
As empresas Web3 têm um risco maior do que start-ups que atuam noutras áreas de negócio?
A indústria de Web 3.0 é ainda tão recente que existem muitos unknown unknowns, ou seja, desconhecimento que não permite uma pessoa entender os limites do seu próprio desconhecimento. É, por isso, fundamental para a Bynd ter na equipa um especialista em blockchain com vários anos de experiência na área. Pode-se aprender muito sobre a indústria a partir de livros e vídeos, mas o conjunto de competências e conhecimentos adquiridos com a experiência permite realmente detetar boas oportunidades e evitar certas armadilhas.
Há riscos tanto do lado técnico, como do lado legal e regulatório. Por exemplo, no passado, muitas empresas em Web 3.0 decidiram emitir as suas próprias criptomoedas como uma forma de angariar fundos. Dependendo da estrutura e utilização destas criptomoedas, podiam ser considerados e-money (moeda eletrónica que funciona como proxy para uma moeda “real”), utility token (uma criptomoeda que tem utilidade dentro do serviço/produto que a entidade emissora desenvolve), ou security token (criptoativos que funcionam como valores mobiliários). Saber navegar todas as implicações legais é bastante difícil e ao mesmo tempo é absolutamente chave para o negócio e como pode operar.
No que diz respeito à regulação, a visão global está a mudar rapidamente. Na Europa, temos a MiCA, que foi recentemente promulgada, mas ainda existem limitações neste enquadramento legal no que toca à sua implementação e consequente impacto no setor. Fazer um negócio crescer dentro de tal ambiente é, sem dúvida, desafiante.
No lado técnico, as empresas em Web 3.0 desenvolvem tecnologia que pode ser responsável por assegurar um valor elevado em criptomoedas. Se a programação e código por detrás desta tecnologia não for sólido, testado e auditado, poderão ocorrer incidentes, como ataques informáticos e eventuais perdas monetárias.
Estes desafios são característicos de uma indústria que é muito recente e que ainda se está a descobrir a si própria. A Web 2.0 também passou por estas dores de crescimento no caminho de amadurecimento na forma como as pessoas, atualmente, comunicam e transacionam online.
No final, aqueles que são capazes de navegar nestas águas incertas são os que irão colher os benefícios e posicionar-se como os atores principais na Web 3.0.
Quais são as grandes tendências do setor e as soluções mais interessantes para descobrir nesta área?
O desenvolvimento mais relevante até à data no setor de blockchain é o DeFi (Decentralised Finance). O DeFi permite às pessoas interagirem e transacionarem sem intermediários e numa forma aberta e livre. Isso é de maior importância porque permite que todos os cidadãos com um smartphone e internet tenham acesso a capital, produtos financeiros, empréstimos e à negociação de ativos.
“O desenvolvimento mais relevante até à data no setor de blockchain é o DeFi (Decentralised Finance). Estamos também a ver o crescimento da popularidade dos NFTs”
Isto representa a democratização do acesso a produtos financeiros que antes era impossível no mundo financeiro tradicional. Ainda há muitos milhões de pessoas no planeta sem acesso a serviços financeiros e a tecnologia blockchain pode mudar esse paradigma.
Estamos também a ver o crescimento da popularidade dos NFTs. Atualmente, a sua grande maioria são vendidos e negociados de uma forma especulativa, mas existem alguns casos de uso interessantes em NFTs mais relacionados com a sua utilidade, como na indústria de venda de bilhetes, itens virtuais dentro de videojogos, ou utiliá-los como representações digitais de bens e ativos reais.