Que mensagem tira desta manhã na Forbes Women’s Summit para o empoderamento feminino?
Clara Não: Algo que é mesmo imprescindível para o empoderamento feminino é a ligação entre as mulheres e a forma como elas se apoiam umas às outras. E só o facto de estar a unir tantas mulheres e a criar um ambiente de partilha, de networking entre mulheres, já por si só é empoderamento feminino. Até podia ser só juntar mulheres para tomar chá ou fazer um desporto qualquer, só por si só unir tantas mulheres, e ainda por cima dentro do panorama do empreendedorismo e das organizações já é…
E que importâncias tem este tipo de eventos em termos de simbolismo? O que é que tem de mudar dentro das organizações?
É mesmo importante, porque tu vês nas outras pessoas as tuas aspirações, é tu veres que é possível chegar ali, ver exemplos, criar representatividade. E, nas organizações, é preciso isso mesmo: garantir que há uma representatividade que há equidade e igualdade de género, e também de nacionalidade e base cultural. As mulheres têm de lutar tanto durante a vida para serem levadas a sério, mas para as pessoas acreditarem que elas são capazes de fazer X, elas têm de mostrar mil vezes que são capazes de fazer aquilo. Têm constantemente de estar a provar o seu profissionalismo e a sua eficiência.
Quais são os principais obstáculos à chegada das mulheres a cargos de liderança?
Há muitos obstáculos ainda e os mesmos obstáculos não são iguais para os dois géneros. E só aí já é um problema. Vemos um homem muito trabalhador, que tem de sustentar a família, mas vemos uma mulher menos trabalhadora, uma mulher que tem família. E estes papéis de género têm de ser destruídos, pois são levados como uma explicação para a desigualdade de género. Claro que já há mulheres nas chefias. Há muito a ideia de a mulher ser demasiado emocional, quando nós sabemos perfeitamente que, se for para ir por aí, são mesmo as emoções e a valorização das emoções que nos levam a levar a uma cultura de organização que seja confortável e que mantenha os colaboradores e colaboradoras. Se for para seguir estes papéis de género, que se guiem então pelo que eles realmente querem dizer. Quando crescemos, a responsabilidade é totalmente tirada dos homens, quer em termos reprodutivos quer em termos comportamentais. Mas depois eles é que são considerados melhores para tomar decisões. É uma incongruência enorme. Nem todos os homens querem ser aqueles “machos”, não são só aquilo, são muito mais do que aquilo. Esta toxicidade de papéis de género existe e acaba por migrar para outros passos da vida quando crescemos. Acho mesmo irónico esta questão da responsabilidade retirada dos homens enquanto crescem, mas depois às mulheres não nos é confiada responsabilidade quando somos adultas. Isto não é para desvalorizar, claro que homens que fazem bem o seu trabalho. Valorizar as pessoas que fazem bem o seu trabalho e conseguir ver para lá do género. É mesmo preciso criar representatividade. Como é que uma organização pode servir o mundo, se não representa o mundo? Se não tem em si colaboradores e colaboradoras que representem o mundo também? Como é que vai ter uma visão ampla das pessoas que está a ser e das pessoas que está a ajudar?