O catálogo de músicas (gravadas e que venham ainda a ser gravadas) de Bob Dylan foi vendido à Sony Music Entertainment (SME), anunciou agora a empresa, mais de um ano depois do catálogo de composições do músico, que recebeu o Nobel da Literatura de 2016, ter sido vendido para o Universal Music Publishing Group.
O acordo, que foi finalizado em julho de 2021, mas só agora foi dado a conhecer, inclui todo o catálogo de músicas gravadas de Dylan desde 1962 – 39 álbuns de estúdio e 16 “bootlegs”, segundo a Billboard, além dos direitos de futuras reedições do seu trabalho.
A Sony não adiantou os pormenores do negócio e quanto pagou pelo repertório, contudo a Variety cita fontes anónimas que garantem que em cima da mesa está um valor entre US$ 150 e US$ 200 milhões (entre 132 milhões e 176 milhões de euros).
A Billboard avança, igualmente, que as gravações levaram a Sony a desembolsar mais de US$ 200 milhões (176 milhões de euros).
“A Columbia Records e Rob Stringer foram bons para mim durante muitos, muitos anos e muitos discos”, disse Dylan, 80 anos, num comunicado, referindo-se à subsidiária da Sony, a produtora com a qual assinou quando começou a sua carreira musical. “Estou feliz que todas as minhas gravações possam ficar onde elas pertencem.”
Catálogo de composição de canções
Em dezembro de 2020, Dylan vendeu o seu catálogo de composições para o grupo Universal Music Publishing, um acordo que, segundo rumores, valeria entre US$ 250 (220 milhões de euros) e US$ 300 milhões (265 milhões de euros), de acordo com o New York Times e a Bloomberg, tornando-se uma das maiores vendas do género.
Os catálogos de gravação fizem respeito à reprodução e à distribuição, sendo frequentemente chamados de “masters” de um artista e são a base através da qual os músicos geralmente podem receber royalties das suas músicas, de acordo com a Pitchfork.
Os catálogos de composição dizem respeito à criação real das músicas, como as notas e as letras, e entram em cena quando outro artista quer fazer um “cover” do seu trabalho, por exemplo.
Bob Dylan e a SME continuarão a colaborar numa série de futuras reedições de catálogos da série Bootleg do artista.
Bom investimento para a Sony
Em que medida este é um bom negócio para a Sony? O episódio que contamos a seguir e os números apresentados falam por si.
No ano passado, Bob Dylan recebeu da Columbia Records, da Sony Music, um Chevrolet Impala 1959, de cor creme, com um interior em tons de verde que custou cerca de US$ 100.000, dado que a Sony reconstruiu toda a mecãnica, de acordo com a Billboard.
O automóvel antigo não foi apenas um presente de aniversário de 80 anos, mas um símbolo do apreço da Sony também pelo acordo que Dylan fez consigo no verão passado para vender as suas gravações “master”, que a Billboard estima que geram US$ 16 milhões (14 milhões de euros) em receita por ano. Ou seja, em pouco mais de uma década este investimento de 200M€ paga-se.
Tendência no mundo da música
Os últimos anos viram uma infinidade de lendas da música a lucrar com os seus catálogos de gravação e de composição. Em abril, o catálogo de músicas de Paul Simon também foi vendido para a Sony por US$ 250 milhões.
Duas semanas antes, todo o catálogo de músicas de David Bowie foi vendido para a Warner Chappell Music por mais de US$ 250 milhões (220 milhões de euros), segundo vários meios de comunicação.
Stevie Nicks e Neil Young também venderam participações nos seus catálogos. A pandemia tem sido uma força motriz para os artistas decidirem vender as suas músicas, informou a Rolling Stone, dado que as digressões deixaram de ser possíveis, com a pandemia e os confinamentos.
Outros exemplos: Bruce Springsteen vendeu os seus catálogos de publicações e músicas gravadas para a Sony Music por US$ 550 milhões (485 milhões de euros); o catálogo de músicas gravadas de Motley Crue foi adquirido pela BMG no final de novembro de 2021 por cerca de US$ 90 milhões (79 milhões de euros).
Razões fiscais, planeamento de investimento noutras áreas como imobiliário de luxo também podem estar a contribuir para que os artistas optem por vender os seus catálogos.
Nostalgia e novas oportunidades de reedição para músicas antigas, que aplicações como as de fitness trazem, também podem estar a influenciar esta tendência, de acordo com o Wall Street Journal.