A G20 Young Entrepreneurs’ Alliance (G20YEA) é a organização que congrega as associações dos membros do G20 que têm como missão promover o empreendedorismo jovem como motor da renovação económica, criação de emprego, inovação e mudança social, representando vários milhares de jovens empreendedores. Assume-se como a organização mais representativa de jovens empreendedores e jovens empresários de todo o mundo, reúne todas as culturas e correntes de opinião e é composta por aqueles que mais ativamente estão no terreno a fazer avançar o mundo.
Qual o papel que Portugal irá assumir no seio do G20 YEA com a sua nomeação para representar a Europa?
Portugal não é um país membro, ou convidado, do G20, pelo que a ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários não tem assento direto no G20 YEA. Contudo, a ANJE é membro da YES For Europe, que é a Confederação Europeia de Jovens Empresários e, em resultado do trabalho que a ANJE e os seus indicados para representar a associação nos fóruns internacionais têm vindo a fazer nos últimos anos, esta associação (a YES For Europe) indicou, votando unanimemente em direção, por me indicar enquanto seu representante na G20 YEA. É uma honra e uma responsabilidade, tanto mais que por Portugal não ter uma participação direta será também uma oportunidade adicional de levar até este fórum aquelas que são as preocupações e opiniões dos jovens empresários portugueses e que se conjugam com a dos jovens empresários europeus.
Mas Portugal poderá vir a receber a conferência da organização?
Seria absolutamente notável e relevante considerar a possibilidade de Portugal poder vir a acolher o evento anual do G20 YEA, algo que teria de ter, naturalmente, a concordância da YES For Europe. Não descarto essa possibilidade, contudo, para o podermos equacionar, precisamos primeiro de demonstrar que o empreendedorismo português quer ter esse impacto global por via do seu talento e capacidade.
Quais as diretrizes que vão nortear a sua presença neste cargo?
Seguramente as mesmas que norteiam a minha participação na ANJE e na YES For Europe e, já agora, também na FIJE – Federação Ibero-americana de Jovens Empresários onde participo em representação da ANJE, e que são a de procurar transmitir aquilo que são a perceção e sentimento dos jovens empreendedores e empresários, de forma ativa, procurando com isso obter resultados que contribuam para que o ecossistema empreendedor, e o ecossistema das empresas, possa subsistir de um modo mais eficiente. Não nos podemos esquecer que as empresas são as organizações com maior impacto na vida das pessoas, quer pelo que possam criar e produzir, mas sobretudo por serem a plataforma de criação de emprego. São por isso essenciais na procura de um mundo com menos pobreza e menos desigualdade social, por exemplo. E é por isso que se torna essencial potenciar o empreendedorismo e criar condições favoráveis às empresas, ao mesmo tempo é muito importante que os empresários, e com enfoque especial nos mais jovens, tenham uma consciência maior sobre o papel que direta e indiretamente têm no mundo e, consequentemente, na vida das pessoas.
É um palco para a troca de experiências…
A participação nestas organizações é também muito interessante pela possibilidade de conhecimento sobre outras realidades e circunstâncias além da europeia e portuguesa, e isso é algo para que na ANJE temos vindo a olhar, procurando daqui obter uma plataforma de apoio aos jovens empresários portugueses que procuram, por exemplo, fomentar a internacionalização dos seus negócios. Atualmente, mais do que nunca, os jovens empresários movem-se num espaço à escala mundial e é importante que consideram cada vez mais o espaço internacional.
A internacionalização é vista como um trunfo para se ganhar escala. Mas no campo do empreendedorismo há realmente essa aposta?
A internacionalização assume uma importância elevada no ecossistema empresarial português, fruto da necessidade que as empresas têm de alcançar mercados de maior dimensão. Os jovens empresários devem, por isso, olhar para o espaço internacional como uma oportunidade, avaliando os diversos mercados existentes. A participação que a ANJE tem em fóruns internacionais tem também ajudado a fazer da associação um hub de apoio à internacionalização e isso é algo que pretendemos, cada vez, mais potenciar. Ao mesmo tempo, Portugal tem exemplos relevantes de empresas e projetos nacionais bem implementados a nível global e que devem servir de inspiração e, até, de mentoria a jovens empresários que procuram dar os primeiros passos no caminho da internacionalização. É, por isso, importante a criação de rede e de canais de comunicação com as associações representativas de jovens empresários de diversas regiões do mundo e tornar disponível essa rede aos jovens empresários portugueses. É algo que temos em cima da mesa e como prioridade da ANJE para os próximos anos e é ciente disso que eu próprio assumo posição nestas organizações.
O mundo enfrenta incertezas trazidos pela pandemia da Covid-19 e agora pela guerra Rússia/Ucrânia e consequente escalada de preços e inflação. Qual o impacto destes eventos na implementação de novos investimentos dos jovens empreendedores?
Sem dúvida que vivemos tempos muito desafiantes para os empresários e se pensarmos nos jovens empreendedores, mais desafiantes são. Isto porque, muitas vezes, a decisão de empreender e criar um negócio fica impactada pelas circunstâncias. Não estamos, assim, num momento de grande apelo à criação de novos negócios. Contudo, ao mesmo tempo, estamos a viver tempos de grande alteração a nível tecnológico. Temas como a Inteligência Artificial, que cada vez mais está “utilizável” pelas pessoas e pelas organizações, e a cibersegurança, absolutamente transversal no mundo de hoje, são tópicos-áreas que têm sentido enorme aceleração, apesar do momento que o mundo vive. Acredito, e temos vindo a observar isso nas discussões que nestes fóruns mantemos, que a questão da sustentabilidade energética e ambiental continuarão a ser primordiais e, a meu ver, são das áreas onde a inovação mais impacto no mundo poderá ter. A reunião de vários jovens empreendedores, de todos os cantos do mundo, permite, muitas vezes, a partilha de experiências, a troca de opiniões e até o desenvolvimento de parcerias que permitem que novos investimentos possam surgir.
De que forma o cargo que exerce hoje na ANJE será uma mais-valia no seio do G20 YEA?
Acredito que no G20 YEA poderei incorporar aquilo que é visão dos jovens empresários portugueses, levando até àquele órgão o que trabalhamos e debatemos na ANJE e na YES For Europe. Ao mesmo tempo que espero que a minha participação no G20 YEA seja também uma mais-valia para a ANJE e para a YES For Europe. Será importante possibilitar a criação de canais de contacto e comunicação mais próximos entre os jovens empreendedores portugueses com os de outras regiões do mundo.
Até que ponto, em Portugal, o empreendedorismo jovem está a dar cartas no mercado nacional e externo?
Temos tido ao longo dos últimos anos vários projetos protagonizados por jovens empreendedores portugueses que têm alcançado sucesso e isso contribui muito para um olhar positivo sobre o que se faz em Portugal. O próprio país tem vindo a dar mais relevo ao ecossistema empreendedor, principalmente depois da crise de 2008, momento a partir do qual, na minha opinião, se sentiu um impulso maior de apoio à criação de novos negócios. O movimento em torno das startups é global e Portugal não fugiu a essa regra. Hoje, além de incentivar o surgimento desses novos negócios é preciso também apostar na criação de valor, na rentabilidade, e na sustentabilidade.
Ao nível da Confederação Europeia de Associações de Jovens Empresários, quais têm sido as apostas estratégicas?
O principal objetivo da YES For Europe é ser, no espaço europeu, a voz dos jovens empresários. Fazer chegar as preocupações e necessidades de quem empreende aos líderes da Europa, incentivando-os a potenciar o florescimento do empreendedorismo jovem. Mas queremos mais além disso. Queremos que a mensagem seja feita nos dois sentidos e, enquanto organização, procuraremos assegurar que os jovens empreendedores também colocam nos seus objetivos, e nos dos seus negócios, os temas da sustentabilidade climática e ambiental e os temas da responsabilidade social. As empresas são feitas de pessoas e é nas pessoas que primeiro impactam. Isso é algo que nenhum empresário deve deixar de lembrar.
Assume também a vice-presidência desta Confederação. Quais as diretrizes que irá implementar com esta nomeação?
A minha função passará, seguramente, por levar até esta organização aquilo que é a realidade portuguesa, procurando também abrir canais que possam ajudar os jovens empresários portugueses a posicionarem-se melhor no contexto europeu. Muitas vezes sentimos que estamos numa espécie de periferia europeia, o que não é positivo. Ainda mais quando temos, atualmente, talento e capacidade de realização em diversas áreas de. É fácil lembrarmo-nos rapidamente de empresas portuguesas que se destacam no que fazem. Precisamos fazer com que os jovens empresários portugueses tenham uma orientação que vá sempre mais além daquilo que são as fronteiras portuguesas. Será também assim que Portugal se poderá aproximar do nível de desenvolvimento de países mais avançados.
No dia a dia, quais são as suas apostas na forma de liderar?
Procuro manter perto as equipas com que trabalho e gosto de regularmente perceber quais as situações que enfrentam durante as ações que têm de concretizar. Na empresa que tenho para gerir, a Adyta, uma empresa tecnológica na área da cibersegurança, procuro que todos os elementos tenham uma visão global do negócio, de modo que todos percebamos os desafios uns dos outros e funcionemos plenamente em equipa. Além disso, temos um propósito comum que é o de servir o cliente e só o conseguiremos do melhor modo se percebermos antecipadamente o que são as suas necessidades. É importante que nos entendamos bem enquanto pessoas, respeitando a individualidade de cada um. Procuramos fazê-lo sempre mantendo muita exigência pelo cumprimento das tarefas que temos de fazer com qualidade.
A pandemia obrigou também a melhorar a comunicação…
Considero que atualmente a comunicação entre equipa é um fator essencial e crítico. É de onde surge a melhor colaboração, mas também é onde pode surgir o maior problema. Nesse aspeto procuro insistir muito na claridade do que se comunica entre equipa. E isto é um desafio, pois atravessámos anos de pandemia, confinamentos e implementação fortíssima de teletrabalho. Há, a nível da gestão, uma necessidade maior de comunicar melhor, mesmo com distanciamento físico, de criar espírito de equipa e proximidade, ainda que à distância. Isso consegue-se com um propósito comum, que devem ser os objetivos da empresa, e com uma boa comunicação.