A adega de um lado, o restaurante em fundo e vinha por onde a vista alcança compõem a paisagem bela, rodeada de arvoredo, que recebe quem visita a Quinta de Lemos. O seu proprietário, Celso Lemos, há muito radicado na Bélgica, preside há dezenas de anos à Abyss & Abidecor, líder mundial no fabrico de materiais à base de algodão, sobretudo para a hotelaria. O investimento no vinho veio depois, e o enólogo Hugo Chaves é o seu autor desde o primeiro dia.
Celso Lemos gere uma empresa líder mundial no fabrico de têxtil lar à base de algodão e outras matérias primas nobres no segmento têxtil lar de luxo, a Abyss & Habidecor. Como e porque decidiu investir no negócio dos vinhos, há quase 25 anos?
Celso Lemos é um patriota que dedicou 45 anos à produção de têxteis para o lar e sua comercialização nos cinco continentes, que estão hoje à venda em boutiques e departament stores de luxo em 60 países, como o Harrods, em Londres, o Bloomingdale´s, nos Estados Unidos e no Dubai, e o El Corte Inglés em Portugal e Espanha. Nas suas inúmeras viagens foi cultivando amizades que se foram mantendo até hoje. O investimento na Quinta de Lemos, e na produção de vinhos do Dão, a sua região, foi também uma forma de partilhar com eles as suas origens, o seu terroir, o seu mundo.
A Quinta de Lemos é, hoje, muito mais do que apenas um negócio de vinho. Quais são as suas principais áreas de atividade?
Em finais da década de 1990, Celso de Lemos comprou uma vinha em Silgueiros, com o sonho de criar um vinho excecional, de qualidade e excelência ao nível dos melhores no mundo, e desse modo, devolver à sua região natal algo com que a vida o havia brindado.
Hoje a Quinta de Lemos é sobretudo um local de partilha de momentos e produtos da nossa região e de Portugal, porque as amizades e relações que se criam vão muito mais além do que a atividade económica. E fazemos isso através do vinho, do enoturismo e da restauração, e de toda gastronomia, vinhos e azeites que servimos no nosso restaurante Mesa de Lemos, que tem hoje uma estrela Michelin.
É o enólogo da Quinta de Lemos desde o primeiro momento. O que é que diferencia a forma de estar e agir na vinha e na adega, para originar, todos os anos, os vinhos que a caracterizam e diferenciam?
Os vinhos da Quinta de Lemos são profundos e complexos, em virtude de uma viticultura moderna, rigorosa e de baixo rendimento. A vinha não carece de grandes alterações, exceto na alteração quantitativa do encepamento em função das necessidades. Ao nível da produção de vinho, o processo é semelhante. Manter a nossa identidade é o mais importante, mas isso não invalida que possa sempre nascer mais um ou outro produto para enriquecer o nosso portefólio.
A política comercial da Quinta de Lemos é original, já que os vinhos das gamas altas estagiam durante muito tempo em cave antes de serem comercializados. Quais são as razões para isso?
Os vinhos vão para o mercado apenas quando estão absolutamente prontos para consumo e, por isso, a gama de tintos sai da quinta pelo menos com cinco anos de garrafa. Os grandes vinhos precisam de tempo para estabilizar naturalmente e quanto mais ricos são, algo que advém do baixo rendimento da vinha, mais tempo precisam. Durante esse período, vão decorrendo processos de oxidação-redução nos vinhos que os tornam mais complexos. Os aromas primários simples desenvolvem-se e vão-se ligando a aromas terciários como chocolate, frutos secos, mel, terrosos, couro etc., tornando-os mais complexos e sedosos, com mais valor organolético.
O que é, para si, um grande vinho do Dão? E um grande vinho da Quinta de Lemos?
Um grande vinho tem de ser profundo e persistente. Tem obviamente de ter personalidade, ser mais leve ou encorpado e, sobretudo, tem de proporcionar prazer, muito prazer, a quem o bebe.
Um grande vinho é sempre melhor quando saboreado na companhia de amigos e com a comida certa. Como é que esse encontro se faz no vosso restaurante, Mesa de Lemos?
Os vinhos da carta do restaurante são escolhas criteriosas feitas pelo seu responsável, o chef Diogo Rocha, com o objetivo de harmonizarem com os pratos que cria e espelharem, com exatidão, os momentos que pretende oferecer. Alguns deles são mesmo produzidos em exclusividade para o Mesa de Lemos, de forma a corresponder às exigências dos pratos.