BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – pretendem mudar o cenário atual onde predominam pesos-pesados como o dólar norte-americano e o euro. A ideia por trás da criação de uma moeda única consolidada para os BRICS não tem implicações financeiras apenas; constitui um grande passo no sentido de maior liberdade económica e promoção de um sistema global mais equilibrado. Este novíssimo conceito, ambicioso por si só, e dada a inevitabilidade de um novo quadro económico não ocidental, remete-nos para o crescente poder deste grupo de países e para as novas dinâmicas de influência global.
Poder económico e capacidade institucional
A proposta de estabelecer uma moeda única para os BRICS é vista como uma boa solução para enfrentar os inúmeros desafios económicos com que estes países se confrontam, sobretudo em matéria de sanções internacionais e dependência financeira. Ao minimizar a sua dependência dos sistemas financeiros ocidentais, que se fazem acompanhar normalmente de exigências políticas, os países dos BRICS estarão a reforçar assim a sua independência económica. Esta moeda facilitaria o comércio entre estes países, reduzindo hipoteticamente os custos de transação e mitigando os riscos associados a oscilações cambiais. O sucesso desta ideia exigirá, no entanto, quadros institucionais robustos. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e o Acordo de Reserva Contingente (CRA) desempenham aqui um papel importante no que toca a proporcionar a necessária estabilidade e confiança para sustentar uma nova moeda. Estas instituições são prova do compromisso dos BRICS no sentido do aprofundamento da cooperação e reforço da segurança financeira entre os seus membros, bem patente na adesão prolongada a esta organização que agrega seis países e no poder económico deste grupo no seu todo.
Implicações geopolíticas e posicionamento global
A introdução de uma moeda única para os BRICS tem fortes implicações geopolíticas. Representa um desafio ao domínio do dólar americano e uma mudança no sentido de um maior equilíbrio de poderes a nível global. Este movimento tem o potencial de reestruturar os padrões de comércio global e de realinhar alianças económicas. Esta iniciativa no sentido da criação de uma nova moeda é também uma reação estratégica ao recurso crescente a ferramentas económicas, tais como sanções e manipulação cambial por parte dos países ocidentais, e tem como objetivo capacitar os países dos BRICS no sentido de um maior controlo do futuro económico de cada um. Uma moeda única dos BRICS pode levar à criação de um sistema económico global mais razoável e inclusivo. Ao encorajar a criação de uma moeda que atente nas diferentes realidades económicas e níveis de desenvolvimento dos seus países membros, os BRICS estão a ir assim contra essa abordagem única tão característica dos modelos económicos tradicionais e promovida por instituições como Bretton Woods.
Os desafios e o caminho a seguir
Os esforços no sentido de criação de uma moeda única para os BRICS, embora tenha as suas vantagens do ponto de vista estratégico, tem muitos obstáculos pela frente. As diferenças do ponto de vista económico entre os países do BRICS, os seus diferentes estágios de desenvolvimento, estabilidade política e estratégias económicas, são alguns dos principais desafios que enfrentam atualmente. A competição histórica e os atuais desacordos regionais entre países dos BRICS podem comprometer, no entanto, a confiança e a colaboração necessárias para que essa moeda floresça. Os BRICS terão de gerir habilmente os avanços tecnológicas, envidando esforços ao mesmo tempo no sentido de uma união entre os diferentes países deste grupo.
Conclusão
Em suma, a proposta de uma moeda única dos BRICS é uma iniciativa ousada em termos de redefinição da governança económica global e constitui um forte ponto de viragem geopolítico. Num mundo cada vez mais multipolar, o sucesso desta proposta dependerá da capacidade dos países dos BRICS de resolverem as disparidades internas e criarem instituições resilientes. A jornada no sentido de uma moeda comum será um teste decisivo à capacidade deste grupo de países de participar numa nova era de cooperação económica e reposicionamento geopolítico. Se for implementada, a moeda única dos BRICS pode não só reforçar a estabilidade económica dos países membros como abrir caminho também a uma ordem económica global mais abrangente e imparcial.
Niyara Useinova,
Diplomacia, Geoeconomia, Genebra