Comendador. Sim, sei que preferia que o chamassem senhor Rui Nabeiro, mas sentada à frente deste Grande Homem, senti que lhe deveria chamar a mais alta patente do meu imaginário.
Chamou a Forbes à sua terra. E, ali, em Campo Maior, a aguardar a entrevista, fui espreitando o que fazia. Assinava papéis. Atendia telefonemas. Parava para dizer algo. 91 anos. Perguntei se ali estava por nossa causa. Responderam-me incrédulos: não, este é o seu dia a dia.
De orgulho a fascínio foi um ápice. Talvez fosse o sorriso sereno, às vezes malandro, enquanto contava as mil e uma histórias da sua agitada caminhada, dos seus tenros 17 anos já na labuta ao lado do tio Joaquim a construir-lhe aquilo que chamou de uma fabriqueta de cafés.
Talvez fosse a sua voz calma a contrastar com as vicissitudes da vida, uma capacidade imensa de ver o lado bom das coisas, os incentivos que foi dando às suas equipas, as lições que foi partilhando com as novas gerações, a forma como distribuía o que ganhava, para que todos pudessem usufruir um pouco desse pouco.
Talvez fossem os olhos embaciados quando falou de Alice, uma companheira de vida, o seu verdadeiro trunfo, a mulher que o deixou trabalhar e o que era de um, era do outro, fez questão que soubéssemos.
Embaciei com ele. Não é, nunca foi um homem de luxos. Confessou-nos, a mim à Dircia e ao Vitor que, o maior luxo é a família. Não se iludam. Que a vida não pode ser só feita de sonhos. E que a morte, não a queremos, mas se tiver de vir, que venha.
Não me deixou ir sem levar uma baga de café em ouro, a mesma que dava, noutros tempos, às mulheres para as incentivar a seguir em frente. Seguirei, mas não será a mesma coisa.
Até um próximo café, senhor Comendador.