Diogo Teixeira, head of growth e partner da Beta-i
Artigo incluído na edição de Maio 2018
Cerca de 72% dos presidentes-executivos (CEO) afirmaram recentemente numa pesquisa de uma consultora global que acreditam que os próximos três anos vão ser mais críticos para a sua indústria do que os últimos 50 anos. Este cenário de mudança e crescimento exponencial, originado em grande parte pela transformação digital, é hoje o canvas da actividade empresarial.
Pessoas, empresas e a tecnologia estão a mudar tão rapidamente que a inovação incremental por si só não será suficiente para acompanhar o ritmo. Novos modelos, caminhos e formas de fazer são críticos para se prevalecer no contexto actual. Em Portugal, trabalhando de perto com muitas empresas e organizações, é interessante verificar como nos últimos anos a inovação está a deixar de ser uma palavra bonita a constar nos valores corporativos, ou um lugar de segunda linha nas estruturas organizacionais, para efectivamente assumir um papel preponderante.
Apesar deste facto, é verdade que muitas das nossas empresas estão ainda a “apalpar terreno”. Os desafios são enormes e simultâneos: alterações no cenário competitivo, suply chain, modelos de negócio e clientes activistas, cada vez mais exigentes, que alteram rapidamente hábitos de consumo/compra ou adoptam novas formas de se relacionar com marcas e empresas. Definir estratégias e prioridades é relevante, e executar é urgente. São tempos entusiasmantes e desafiantes mas parece que, em alguns casos, o “essencial está a ser invisível aos olhos” dos c-levels nacionais, adaptando para este contexto uma expressão bem conhecida de Antoine de Saint-Exupéry em “O Principezinho”. Digo isto porque a transformação digital em muitos casos está a ser encarada essencialmente como uma mudança tecnológica. O actual contexto mostra-nos, no entanto, que a mudança é muito mais profunda. A nossa experiência tanto a trabalhar de perto com start-ups ou empresas bem mais maduras leva-nos a assumir a transformação digital como sinónimo de tecnologia, mas também de humanização.
Apps sobre voz, formas de pagamentos inteligentes, dados, inteligência artificial, comportamentos preditivos, tudo faz parte da nova realidade e as empresas estão obrigadas a olhar para elas. Mas a diferença está na forma como o farão e aqui a dimensão humana assume-se como primordial. Métodos colaborativos, abertos, insightful, client oriented, são fundamentais. Customer journeys, design thinking são muito bem-vindos e na realidade, por estranho que possa parecer, muitas organizações ainda não os usam, ou fazem-no de uma forma superficial. Mas a mudança terá de ser de cultura, de propósito e não apenas de métodos. Os desafios passam por estruturar uma organização em torno das pessoas, os clientes, claro, mas também os colaboradores e todas as outras com a quais uma empesa se relaciona, que hoje cabem dentro do guarda-chuva desumanizado que é a expressão stakeholders.
As empresas que conseguirem transformar-se em comunidades, organismos humanos e vivos que potenciam o melhor de cada um para o benefício de todos serão as que seguramente levarão maior vantagem neste movimento imparável da transformação digital. Pensar em transformação digital apenas pelo prisma da tecnologia, vai deixar muitos pelo caminho.