Co-fundador da Beta-i
Artigo incluído na edição de Janeiro 2019
Com o final do ano e início de um novo ciclo, somos por vezes levados a reflectir, perspectivar o futuro e a renovar ambições e metas. Aproveito estas linhas neste momento particular do nosso calendário para uma partilha mais pessoal, uma reflexão que me tem acompanhado nestes últimos tempos.
No contexto de mudança acelerada ou exponencial, por via da transformação digital, como a que vivemos actualmente, uma das maiores necessidades das empresas, com as quais vamos na Beta-i interagindo diariamente, é a transformação da cultura, a gestão da mudança, a integração de novas competências mas, acima de tudo, a expectativa de uma atitude empreendedora por parte dos colaboradores nos vários níveis da organização.
A mudança de hábitos e cultura é, como sabemos, das coisas mais difíceis em qualquer sociedade, comunidade, organização. E é aqui que chega o ponto de reflexão que quero partilhar, na esperança que possa ser comentado, rebatido, discutido. Apesar do contexto de transformação acelerada e permanente da nossa sociedade, vivemos ainda na Europa e nomeadamente em Portugal dominados por um código cultural em que o “Ser” é mais relevado do que o “Fazer”.
Apenas a título de exemplo, trago a frase que tantas vezes ouvimos e repetimos “o que queres ser quando fores grande?”. Pode ser um exemplo mundano, mas este “ser” é o espelho de uma forma de pensar ainda presente na educação e como consequência nas estruturas corporativas: “Fui promovido a Director”. Fará diferença começarmos a perguntar às crianças o que querem fazer, em vez do que querem ser? Acredito que sim. E não vou levantar neste fórum sequer a questão de que somos claro todos muito mais do que a nossa profissão, ou curso. Acredito que fará a diferença não só porque essa será a sua realidade, como já é a nossa, fazer tantas e diversas coisas no nosso percurso de vida e profissional, como acredito que uma cultura de fazer em vez de ser nos torna mais livres, mais leves, mais ágeis. E pessoas mais livres, leves e ágeis terão como consequência organizações mais livres, ágeis e leves.
Podem as empresas esperar pelas crianças que vão crescer numa cultura de fazer? Não! Mas podem arrepiar caminho, revisitando as suas estruturas organizacionais, de trabalho, de recrutamento, remuneração, as suas hierarquias. Às vezes, as mudanças precisam de pequenos sinais e evidências, que deixam claros os objectivos. Quem sabe se além de deixarmos de perguntar às nossas crianças o que querem ser, mas sim que coisas querem fazer, construir, alcançar, possamos também deixar, a título de exemplo esdrúxulo, de ver cartões profissionais com cargo, mas com projectos ou missões.
Aproveito para desejar a todos, umas óptimas festas, e um 2019 repleto de projectos, sejam lá eles quais forem, entusiasmantes, que nos tornem a todos mais livres, ágeis e leves.