Ana Paula Moutela, ex-directora-geral da Inditex Portugal
Artigo incluído na edição de Janeiro 2018
“Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas”
SAINT-EXUPÉRY
Sucessão é sinónimo de responsabilidade e respeito, por quem vem e por quem fica. As equipas não podem, nem devem, ser abandonadas ou surpreendidas. Agradecem a previsibilidade e a confiança. O cenário ideal para a saída é proteger as equipas, facilitar o caminho ao sucessor e garantir resultados. Sempre pensei que este seria o meu maior desafio e, por isso, preparei a minha saída, quase, desde o momento em que entrei. Sempre me senti responsável pelo futuro das minhas equipas. Deleguei quase tudo, menos este sentimento. Preparei-os para a hipótese de, em qualquer momento, não estar presente na organização.
Quando me questionavam sobre quanto tempo iria permanecer na empresa e sobre a sucessão, sempre respondi que poderiam ser mais dois anos ou mais 20. O importante é sentir e saber qual o momento da saída, e ter as equipas e o sucessor preparados. Tem que (ou deve) ser um processo natural, sem sentimentos de perda.
Numa das minhas longas conversas com Amancio Ortega, e partilhando as suas preocupações prometi, desde cedo, que jamais abandonaria a empresa sem criar uma grande equipa, sem ter um excelente sucessor ou em algum momento difícil da vida do grupo. Cumpri as três promessas!
Acredito que as equipas devem ter protagonismo e assumir responsabilidades. Por isso defendo que o melhor é ser um líder invisível: não se vê, mas está sempre atento. Acredito que o seu papel é estimular as equipas para que se tornem independentes, que aprendam a correr riscos, desafiando-as a tomar decisões e suportando-as quando erram. Esta é, sem qualquer dúvida, a melhor maneira de as fazer crescer. No meu caso, sabiam que eu jamais os abandonaria e que, quando necessitassem, estaria lá para eles. Mas jamais lhes disse o que queriam ouvir: acredito verdadeiramente que o melhor para cada colaborador ou equipa é escutar o que os faz crescer e avançar, mesmo que seja doloroso.
Nunca crucifiquei ninguém e aproveitei os momentos menos bons para aprender e melhorar. A verdade é que tudo tem solução! Dar o exemplo e respeitar e exigir o mesmo; pedir desculpa e saber agradecer; tudo isto gera confiança, cria proximidade e empatia. Esta atmosfera permite a um líder conhecer as expectativas da sua equipa e criar os momentos necessários para fazer uma boa gestão da mudança.
Sem pressas, sem sobressaltos, a sucessão é um processo que tem que ser vivido com normalidade. A tranquilidade de deixar uma equipa forte e preparada para superar obstáculos, liderada por uma boa pessoa e um bom profissional que eu vi crescer, não tem preço. Vou adorar vê-los brilhar e saborear as suas vitórias. Olho para trás com o sentimento de tarefa cumprida, com um orgulho enorme por aquilo que construímos – eu, o meu sucessor e as minhas equipas. Trabalhei para isso e tive a felicidade de o conseguir fazer exactamente como tinha imaginado. Acredito em Deus, no Universo, nas Estrelas. Creio que todos ajudaram.