Director de gestão de activos do Banco Invest
Artigo incluído na edição de Junho 2018
Nos últimos cinco anos, os mercados accionistas desenvolvidos, medidos pelo índice MSCI World, valorizaram cerca de 45%, em dólares norte-americanos (USD). No mesmo período, os mercados emergentes, em média, subiram apenas 16%, igualmente em USD. No último ano, contudo, o cenário parece estar a mudar, com os emergentes a subirem 21%, mais 7 pontos percentuais do que os congéneres desenvolvidos.
Entretanto, sendo consensual que as avaliações do mercado norte-americano se encontram historicamente elevadas, muitos investidores procuram alternativas com maior potencial de rendibilidade esperada, virando-se, entre outras, para os mercados accionistas emergentes. Foi o que também fizemos durante o primeiro trimestre deste ano, tendo aumentado a exposição a estes mercados nas carteiras sob gestão.
Apesar de eu ficar, por norma, um pouco de “pé atrás” quando existem grandes consensos no mercado, reconheço que os números sustentam o caso das acções emergentes. Em primeiro lugar, a demografia, considerando que os países emergentes representam cerca de 80% da população mundial e, igualmente importante, que estão a passar por um rápido processo de urbanização e aumento da classe média. Estes factores estão a levar a um rápido crescimento do consumo nestes países e, dessa forma, a contribuir para diminuir a histórica dependência destes países pelo preço das matérias-primas. Em segundo lugar, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), as economias emergentes são esperadas representar 60% da economia mundial, em 2020. Em 1980, pesavam apenas 36,5%, o que evidencia bem os diferentes (e elevados) ritmos de crescimento que estas economias têm registado. Ainda segundo o FMI, as economias emergentes e em desenvolvimento deverão crescer 4,9% e 5,1% em 2018 e 2019, respectivamente, bem acima dos 2,5% e 2,2% esperados para as economias avançadas. Ainda que, segundo vários estudos, não exista uma correlação evidente entre o crescimento do PIB e o desempenho dos mercados accionistas, países como o Brasil e a Rússia estão a sair de recessões severas, o que deverá atrair os investidores.
Por último, apesar da importância relativa em termos demográficos e de crescimento económico, a capitalização bolsista destes mercados representa apenas 12% do índice MSCI World e transaccionam, em média, com um desconto de 22,5% face aos congéneres desenvolvidos, considerando os resultados esperados para 2018. Concluindo, numa óptica de médio longo prazo, faz sentido ter exposição aos mercados emergentes, por exemplo através de fundos de investimento ou ETF. Contudo, apesar de ser um tema interessante e com potencial, importa ter presente que a volatilidade destes mercados é historicamente elevada.
Mais do que o risco político, que nos dias de hoje não é um exclusivo dos países emergentes, uma subida das taxas de juro mais rápida do que o esperado pela Reserva Federal norte-americana e a consequente apreciação do USD, poderão causar alguma turbulência no curto prazo.