Álvaro Santos Pereira, ex-ministro da Economia e actual director para a Política Económica da OCDE
Artigo incluído na edição de Dezembro 2015
Uma das características mais marcantes da economia mundial desde a crise financeira internacional é o fraco comportamento do investimento. Entre 2008 e 2011, o investimento caiu 15% nos EUA e no Japão, e 20% na Europa. Actualmente, o investimento permanece em níveis muito baixos, principalmente na Zona Euro, onde ainda é 15% menor do que em 2008. Porque é que o investimento tem tido um desempenho tão medíocre?
Em parte, a contracção do investimento é uma das cicatrizes da maior crise financeira internacional desde a Grande Depressão, e os níveis de confiança dos investidores permanecem modestos, penalizando o investimento. Na Europa, o investimento foi também prejudicado pelas crises das dívidas soberanas e pela subsequente grande contracção de crédito que afectou várias economias – contracção que foi largamente responsável pela tremenda subida do desemprego e da falência de muitas empresas. Porém, a crise não explica tudo.
Em muitos países, o elevado endividamento dos privados continua a ter um impacto muito negativo sobre o investimento. Em Espanha, na Eslovénia e em Portugal, a dívida das empresas continua alta, apesar do desendividamento dos últimos anos. Na Grécia e em Itália, o crédito malparado ainda é muito alto, o que restringe a concessão de crédito pelos bancos. Na Holanda, na Dinamarca e na Suécia, a dívida das famílias atingiu valores recordes, fomentada pelo crescimento dos preços das casas e condições de crédito favoráveis. Por outro lado, o investimento público também não tem dinamizado a procura interna. Na Europa, os países que se viram a braços com uma crise de dívida soberana não têm tido margem para aumentar o investimento público, enquanto nos outros países tem havido uma enorme relutância para fomentar este tipo de investimento. Por isso, urge perguntar: o que é preciso fazer para fazer retomar o investimento?
Em muitos países, como é o caso de Portugal, é imperioso baixar os impostos afectos ao trabalho e às empresas.
Em primeiro lugar, é essencial continuar a melhorar e diversificar as fontes de financiamento das empresas. Como? Reforçando o crédito bancário tradicional, mas também apostando no financiamento não bancário, através do desenvolvimento de mercados de capitais dedicados às pequenas e médias empresas (venture markets) e da dinamização de novos instrumentos de financiamento, como os bancos de fomento. Em segundo, é fundamental continuar a melhorar o clima de negócios na Europa através de reformas estruturais adicionais. É preciso diminuir a burocracia, baixar as barreiras de entrada ao empreendedorismo e fomentar a concorrência. A Europa tem de melhorar o clima de negócios, sob pena de deixar de ser atractiva para os investidores.
Terceiro, é essencial investir em infra-estruturas que reduzam os custos de contexto. Na Europa, construir e concluir as grandes redes transnacionais de energia e de ferrovia deve ser prioridade absoluta. E finalmente, em muitos países, como é o caso de Portugal, é imperioso baixar os impostos afectos ao trabalho e às empresas. Em suma, há muito por fazer para reanimar o investimento. Apesar de a tarefa não ser simples, é fundamental sermos bem-sucedidos. A verdade é que o fantasma da crise permanecerá latente enquanto o investimento não for reatado. É que sem mais investimento não haverá recuperação duradoura. É tão simples quanto isso.