Head of growth e partner da Beta-i
Artigo incluído na edição de Outubro 2018
O pesquisador Norman Horowitz defende que organismos vivos devem ter as seguintes propriedades: replicação, catálise e mutabilidade. As empresas são, para mim, organismos vivos, não só por terem estas três propriedades, mas essencialmente por serem organizações que vivem de pessoas e como consequência deste facto, vivem das suas ambições, medos e cultura.
Como outros organismos vivos, acredito que as empresas também têm sistema imunitário. Na Beta-i trabalhamos com o propósito de ampliar o sucesso de pessoas e empresas através de práticas inovadoras e colaborativas. Nesse esforço verificamos que o sucesso da inovação tem a ver com as emoções.
São muitas vezes as resistências das pessoas que afastam ou atrasam a inovação. Essas resistências funcionam como o sistema imunitário. Um sistema imunitário seguramente útil contra muitos males, mas que tende a repelir ou pelo menos a desconfiar e a levantar barreiras ao que é realmente novo ou diferente. Não o vemos a acontecer tanto quando se tratam de variações, pequenas melhorias, ou evoluções incrementais, mas claramente face ao novo, ao inédito ou ao que os concorrentes ou outras indústrias ainda não fizeram.
Num contexto de mudança acelerada ou exponencial, por via da transformação digital, como o que vivemos actualmente, o sistema imunitário pode ser letal às próprias empresas. Acreditamos que defender o core, centrar-se essencialmente em melhorias funcionais, como utilizar a tecnologia para se fazer digitalmente o que antes se fazia por outros meios, sem buscar novos horizontes ou novos paradigmas sobre o negócio que sempre se dominou, pode ser fatal a muitas empresas que hoje são dominadoras nos seus segmentos.
Para que isso não aconteça é preciso, em primeiro lugar, aceitar que o sistema imunitário existe e em segundo não subestimar a sua força. Há muitas formas de bloquear, atrasar ou até contribuir para o insucesso de algo. Já o vimos acontecer e posso escrever que na enorme maioria dos casos não há qualquer má intenção nessa acção. É uma acção liderada por convicções profundas, por desconhecimento ou medo. E se há coisa que todos concordamos é que o medo paralisa.
Defendemos que o caminho para baixar as barreiras do sistema imunitário passa essencialmente por criar as condições para que existam verdadeiros casos de sucesso. É mais provável o sucesso em projectos “fora do core”, com pessoas que sintam a confiança de quem pode falhar, e que não estejam expostas durante esse processo ao business as usual. Outra prática positiva é financiar estes projectos de forma faseada, investindo à medida da conquista de objectivos e/ou de resultados.
Os casos de sucesso podem ser transformados em narrativas positivas e aglutinadoras. Essas narrativas tenderão a despertar a curiosidade na organização e nos métodos e na filosofia utilizada, seguidos por outras pessoas, que deixarão de ser dominadas pelo medo, deixando assim as cair as resistências, e enfraquecendo o sistema imunitário no ataque ao novo e desconhecido.