Ricardo Marvão, co-fundador da Beta-i
Artigo incluído na edição de Março 2018
Quando me convidaram para escrever este artigo de opinião, a primeira visão que surgiu do jornalista era que fosse algo super atractivo e que tivesse um enorme potencial. A verdade é que já não estamos em 2010 quando a própria Beta-i e esta nova geração de start-ups começou a dar os primeiros passos. É importante ver para além do buzz e do circo que se criou à volta da área.
O ecossistema de start-ups português encontra-se de boa saúde e tem apresentado exemplos interessantes em áreas de negócio pouco visíveis e que parecem à primeira vista ter pouco impacto, pois não acontecem em áreas sexy e com muita visibilidade para títulos fáceis e apelativos, mas têm muito negócio.
São exemplo disso o sector das pescas (como a Bitcliq, uma start-up das Caldas da Rainha a dar cartas a nível mundial no controlo, tracking e sustentabilidade do peixe pescado com a sua solução específica de software) ou a área do publishing (como a Frames, que ajuda os editores a melhorarem e publicarem com maior rapidez artigos mais completos facilitando a introdução de dados potenciados por data science e novas tecnologias) ou a indústria pesada (como a Jungle. ai, que usa grandes fluxos de dados para fornecer previsões altamente precisas sobre o futuro da manutenção de maquinaria pesada em grandes fábricas) ou mesmo leads de vendas (como a AmpleMarket, que usa inteligência artificial para automatizar ao máximo o processo de vendas de maneira a garantir melhores leads e chegar onde o vendedor quer estar, à frente do cliente). Todos estes exemplos e muitos mais estão no business to business (B2B), e tipicamente todos estão a tocar uma pequena lacuna muito interessante em cada área de negócio.
Hoje, não só há um foco muito maior por parte das start-ups no seu negócio como também se tem verificado uma enorme evolução naquilo que as grandes empresas procuram com esta ligação a tecnologias vindas das start-ups. Passou-se do concurso de ideias para “procuro tecnologias que ajudem a potenciar o meu negócio hoje” e sentimos uma verdadeira construção do ecossistema de inovação. Prova disso são os exemplos de empresas como a SIBS, a Fidelidade, a Brisa ou a Credibom que estão focadas em acelerar o seu processo de inovação utilizando tecnologias de start-ups que forneçam soluções práticas e rápidas para os seus problemas.
E mais do que ter os chefes a assistir, quem está involucrado nestes processos são os departamentos, e as suas chefias, que têm esses problemas no seu dia-a-dia, que sentem as dificuldades da falta de recursos humanos ou financeiros para resolver os seus problemas internamente. Percebem que é agora também possível ter um plano B, um plano que os ajuda a encontrar uma solução, que pode até nem ser 100% do que precisam, mas 80% é bem melhor do que os 100% que nunca mais chegam.
É importante distinguir em 2018 o trabalho que foi feito ao longo dos últimos anos, e é preciso evoluir a visão que se tem deste sector das start-ups para que se reflicta o estágio em que nos encontramos bem como as ligações à indústria, que hoje estão bem presentes. Para quem está no meio, o circo já saiu da cidade e hoje o negócio é o que predomina.