Todas as crianças têm um super-herói de eleição. Para uns, é o Homem-Aranha. Para outros, é a Mulher Maravilha. “Mãe” e “Pai” também costumam ser respostas recorrentes. Tudo se resume ao quanto o super-herói, ou super-heroína, inspira a criança. Que valores lhe consegue passar, que comportamentos tem que a criança quer colocar em prática, que objetivos pretende alcançar. Quanto mais inspiradoras forem estas personagens, mais as crianças as vão querer imitar.
É na infância que nos começamos a moldar. O que vemos na televisão, o que ouvimos em casa e o que aprendemos na escola vai ditar, na maior parte das vezes, o nosso percurso na idade adulta. Especialmente, o que aprendemos na escola. O ensino é uma poderosa arma: educa a sociedade e abre caminho à evolução, a vários níveis.
O que queres ser quando fores grande?
Esta é a pergunta que mais ouvimos, quando somos mais novos. Na escola, os desenhos para colorir de cozinheiros, professores, bombeiros ou polícias são recorrentes. Tenho algumas dúvidas se os desenhos de raparigas nas áreas da Ciência o são também. Há desenhos de raparigas programadoras? Ou de mulheres na área da Cibersegurança?
O Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, que existe desde 2011, foi instaurado pela Organização das Nações Unidas e tem como objetivo reforçar o importante papel das mulheres na área científica – que é muito abrangente e permite uma escolha grande de profissões – e incentivar a sua entrada no setor STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Não tenho dúvidas de que a evolução nesta área já se começou a dar. Era normal, até há alguns anos, os cursos da área STEM terem quase apenas alunos do sexo masculino, o que não abria grande espaço às mulheres para se sentirem confortáveis nesse contexto. Hoje, as mulheres já não sentem tanto receio, especialmente porque há muitas, e cada vez mais, associações e programas que incentivam a esta mudança de mentalidade. Que inspiram. Que funcionam como as super-heroínas das áreas das STEM.
Esta transformação de mentalidade tem, inevitavelmente, de chegar também às escolas, para que as raparigas, mesmo as mais novas, consigam perceber desde tenra idade que têm espaço para não só sonhar em mudar o mundo, como efetivamente o fazer. É importante que se ensinem os feitos das mulheres nas áreas das Ciências, para que as mais novas não se sintam intimidadas com as equações de números e letras que passam a fazer parte do dia a dia das cientistas, mas se deixem inspirar pelas suas conquistas. Acredito que, eventualmente, no momento de colorir o “o que queres ser quando fores grande?”, haverá a opção de pintar uma Madame Curie, a primeira mulher a ganhar um Nobel, uma Valentina Tereshkova, a primeira mulher a ir ao espaço, ou uma Margaret Hamilton, cujo trabalho de programação de softwares permitiu que a ida à Lua em 1969 fosse um pequeno passo para o Homem, um grande salto para a Humanidade e uma gigante pernada para as mulheres. Ambiciono, também, que, num futuro breve, quando se pergunte às raparigas as suas figuras de inspiração, estes e outros nomes surjam – não exclusivamente por estarem ligados às Ciências, mas por estarem ligados a momentos de mudança, de coragem e de luta contra estereótipos.
São as escolas que têm o dever de continuar a criar a próxima geração de corajosas (e corajosos, naturalmente) que querem mudar o mundo e construir caminho para o progresso científico. O ensino tem muito mais poder do que aquele que se tem tendência a pensar. Usemo-lo para o progresso. Para a luta contra ideias enraizadas. Para nós, mulheres.
Catarina Costa, Responsável pelo campus de Lisboa da Ironhack Portugal