Cristina Fonseca, co-fundadora da Talkdesk
Artigo incluído na edição de Novembro 2017
Com a democratização da tecnologia, ficou mais fácil criar uma start-up – um negócio global e com potencial de crescimento acelerado. E temos no nosso ecossistema óptimos exemplos.
A uma start-up está normalmente associado capital de risco (ou venture capital), e o levantamento de uma ronda de capital é, geralmente, o início de uma relação (que se espera longa) entre empreendedores e investidores. Nos EUA diz-se em tom de brincadeira que uma relação de negócios dura, em média, mais do que um casamento.
Como em qualquer relação, o alinhamento de expectativas é crucial para maximizar a parceria. E para perceber esta dinâmica é necessário entender as regras deste jogo e os incentivos de ambas as partes.
Na arena das start-ups joga-se um jogo competitivo, difícil e normalmente longo para o qual é preciso estar-se preparado. Regra geral, um fundador promove um projecto com muito potencial, elevado risco e com necessidades intensivas de capital. Um investidor tem a seu cargo fundos e procura a médio prazo (5-10 anos) obter retorno do bolo de investimentos que realiza. Visto que esta é uma actividade de elevado risco, os investidores sabem que parte dos investimentos vai falhar e uma pequena percentagem vai atingir o potencial e pagar as perdas dos restantes (daí que os que têm sucesso tenham de o ter em larga escala).
Dinheiro para investir em boas ideias e equipas de topo não é escasso.
Apesar de as regras do jogo serem claras, há quem as desconheça, as confunda ou as ignore. É também importante perceber que nem todas as empresas são start-ups e nem todo o capital para financiar boas ideias e negócios tem de ser capital de risco. Há muitos negócios viáveis e interessantes que não obedecem a esta mecânica. Para esses há outros tipos de financiamento.
Na primeira liga do campeonato das start-ups os investidores trazem dinheiro, mas também experiência relevante (de preferência a criar, escalar ou investir noutros negócios semelhantes). Os melhores investidores têm redes de contactos globais e também a capacidade e o interesse em continuar a investir no negócio em aumentos de capital futuros (caso isto não aconteça há um sinal negativo que transparece para futuros investidores e pode comprometer a continuidade do negócio). Por outro lado, um fundador que procura capital de risco para financiar a sua empresa deverá estar consciente de que o potencial do negócio tem de ser grande (daí que as mais apelativas para este tipo de capital sejam as empresas tecnológicas), e o financiamento é uma forma de acelerar o negócio. Dinheiro para investir em boas ideias e equipas de topo não é escasso.
A forma de evitar desalinhamentos é reflectir sobre a dinâmica e os incentivos de empreendedores e investidores e perceber se estes estão a convergir. Depois é preciso fazer algum trabalho de casa. Os empreendedores devem tentar perceber a relação de potenciais investidores com outros fundadores em quem eles investiram anteriormente; o investidor deve averiguar a relação dos empreendedores com clientes, parceiros e colegas de trabalho. Normalmente, este processo está à distância de meia dúzia de chamadas telefónicas e pode poupar muitas dores de cabeça.
Felizmente este é um jogo de equipa em que todos ganham se for bem jogado. Quando isso acontece, nascem empresas valorizadas em muitos milhões e com um impacto inegável.