Os responsáveis políticos e investidores querem impulsionar a inovação social e o investimento de impacto como tendência dominante na Europa. Mas existem desafios. O avanço do investimento de impacto na Europa depende de como essas questões são abordadas.
Na última década, o investimento de impacto cresceu em popularidade na Europa. No entanto, existe uma disparidade notável entre as diferentes regiões e países. Alguns desenvolveram-se no campo da inovação social muito mais rápido e mais cedo do que outros. Todavia as políticas de investimento pró-impacto aplicam-se por igual em todo continente.
O desenvolvimento do investimento de impacto na Europa desde 2000
Em 2000, o Reino Unido foi um dos países pioneiros da Europa a assumir uma posição firme em matéria de investimento social com a criação do Grupo de Trabalho de Investimento Social (SITF, Social Investment Task Force). Pouco depois do início deste grupo, foi lançada uma série de fundos de investimento, políticas e de ferramentas financeiras.
A França seguiu-o em 2001, quando o governo lançou fundos de solidariedade. Em 2012, o Reino Unido tomou medidas para avançar significativamente em investimentos de impacto e inovação social com o lançamento do Big Society Capital. Esta é uma das primeiras instituições de investimento do mundo que se concentra em retornos financeiros e sociais combinados.
O desenvolvimento neste campo tem sido muito mais lento na Europa Oriental e em partes da Europa Central. Vários países estão ainda nos estágios iniciais de uso de capital de investimento de impacto, ou mesmo de captação.
Estas diferenças significativas de acordo com a região e o país devem ser abordadas pelos responsáveis políticos e investidores. Para fazer avançar o investimento de impacto e a inovação social em todas as regiões europeias, é necessário levar em consideração a maturidade dos diferentes mercados.
As definições de investimento de impacto diferem de acordo com o tamanho do mercado
A escala e o tamanho dos mercados individuais dependerão da definição de investimento de impacto. Por exemplo, investimento de impacto é definido pelo European Sustainable Investment Forum (EUROSIF) como “investimentos feitos em empresas, organizações e fundos com a intenção de gerar impacto social e ambiental juntamente com um retorno financeiro”
A European Venture Philanthropy Association (EVPA) usa uma definição diferente. Para ativos de investimento de impacto abaixo de € 108 mil milhões (em 2017), o EVPA define como: “investidores para impacto”. Utilizam este conceito para cobrir uma ampla gama de investimentos financeiros e outras atividades associadas a causas ambientais e sociais. Inclui investidores que adotam uma abordagem de capital de risco filantrópico por meio de investimento social ou concessão de doações.
Esta definição também abrange os investidores que apoiam ativamente soluções inovadoras para os principais desafios da sociedade, aqueles que assumem riscos mais elevados do que a maioria dos investidores e investidores que prestam apoio não financeiro. Nos seus últimos números, a EVPA informa que os investidores de impacto na Europa financiaram quase 12.000 organizações de cariz social no valor de € 767 milhões.
Para alguns investidores institucionais, o investimento de impacto ainda é visto como muito arriscado. Métricas de relatório mistas podem também dissuadir proprietários de ativos, como uma fundação ou um indivíduo com um elevado património líquido. Caso contrário, investidores como estes poderiam ter visto potencial no investimento social se pudessem alcançar um retorno financeiro e social. Este tipo de barreira está a atrasar o investimento de impacto na Europa e a impedir que se torne dominante. No entanto, estão a ser realizados esforços em alguns lugares para superar estes desafios e impulsionar o investimento social. A pandemia está a chamar a atenção para a necessidade vital deste tipo de investimento.
Passos que estão a ser tomados para tornar o investimento de impacto como tendência dominante
Por toda a Europa, o setor público lançou políticas que se aplicam a todos os países e apoiou o investimento de impacto a nível nacional e regional em todo o continente. Foi feito um esforço para evitar a imposição de muitas mudanças regulatórias. Em vez disso, visam cimentar tanto a oferta quanto a procura de financiamento de impacto que atenda diretamente às necessidades dos investidores e organizações como órgãos de financiamento e às empresas sociais como destinatários. Em 2011, a Comissão Europeia lançou a Social Business Initiative (SBI), tendo como objetivo apoiar o desenvolvimento da inovação social, as economias sociais e as empresas sociais por todo o velho continente.
Desenvolvimentos importantes vieram da SBI, incluindo o lançamento do Grupo de Peritos em Economia Social e Empreendimentos Sociais (GECES), que funcionará até 2024. Este grupo reúne empresas do setor civil e do setor privado, associações e redes para que comuniquem ativamente com os governos e para que aconselhem a CE sobre políticas socioeconómicas.
Estes grupos são (e foram) responsáveis por muitas inovações políticas importantes, incluindo a entrega de um padrão europeu sobre a medição de investimento de impacto em 2014. Este tipo de política, aplicável a toda a Europa, foi extremamente importante para colocar o investimento de impacto na linha da frente. Grupos como estes incentivam os governos a desenvolver ainda mais os mercados locais e a legitimar a inovação social e o investimento de impacto.
O papel da academia e das associações
As associações e redes também desempenham um papel vital na integração do investimento de impacto na Europa. Ao fornecer recomendações de melhores práticas e analisar dados de mercado, aquelas fecham a lacuna entre investidores e responsáveis políticos.
Por exemplo, a European Venture Philanthropy Association (EVPA) existe desde 2004 com o intuito de alimentar o então setor de filantropia embrionária. Desde então, expandiu as suas atribuições para incluir investidores de impacto. Vários países da Europa estabeleceram associações, como por exemplo a Finlândia, Espanha, Portugal, Suécia, França, Reino Unido e a Alemanha.
Finalmente, a academia e a educação desempenham um papel significativo na expansão do investimento de impacto na Europa. As escolas de negócios permanecem na linha de frente dessa expansão, pois ajudam a desenvolver a base das competências dos gestores de investimento de impacto. Alguns exemplos encontram-se nos cursos de inovação social e empreendedorismo social oferecidos por instituições como o INSEAD em França, a Saïd Business School da Universidade de Oxford ou a ESADE, Espanha.
A COVID-19 e o efeito no investimento de impacto e inovação social
A pandemia irá, naturalmente, causar alterações e mudanças no investimento de impacto. A Europa deve ser capaz de enfrentá-los, e a Comissão Europeia continua a fazer das questões sociais uma prioridade central no próximo orçamento da UE. Isto vem na sequência do Pacto Ecológico Europeu, lançado em dezembro de 2019 para lidar com as mudanças climáticas até 2050.
Em janeiro deste ano, a Comissão Europeia também lançou o Mecanismo para uma Transição Justa, projetado para apoiar o investimento em regiões que lutam para fazer a transição para uma economia verde. O Fundo InvestEU também está presente com o objetivo de se focar em microfinanças e empresas sociais.
Embora todas estas etapas para tornar o investimento de impacto predominante sejam importantes e valiosas, há muito trabalho a ser feito. Investidores, instituições educacionais, empresas e agentes políticos continuam a perseguir esse objetivo. Para isso, deve ser encontrada uma maneira clara de medir a responsabilidade do impacto da inovação social e do investimento de impacto. Grandes desafios estão ainda pela frente e o investimento de impacto deve continuar a expandir-se para os enfrentar.
N’Gunu Tiny, fundador e presidente executivo do Grupo Emerald é um especialista em Tecnologia Transformativa e Inovação Social