As alterações climáticas estão a transformar o mundo do vinho de formas que muitos de nós ainda não conseguimos compreender plenamente e muito menos ter a perceção dos reais impactos em toda a cadeia de produção mundial. Este não é um problema distante; é uma realidade que é já hoje e exige a nossa atenção imediata.
O aumento global das temperaturas, verões mais secos e mudanças nos padrões de precipitação estão a alterar o terroir tradicional, forçando viticultores e especialistas a repensar a viticultura. Um exemplo claro é a região de Bordéus, famosa pelos seus vinhos tintos de renome mundial. Aqui, a introdução de castas portuguesas, como Touriga Nacional e Alvarinho, ajuda os produtores a lidar com temperaturas mais altas. Este é um sinal de que a viticultura está a evoluir, mas também um alerta sobre a necessidade de ação imediata para preservar a qualidade e a diversidade dos nossos vinhos.
Além disso, a viticultura está a expandir-se para latitudes mais ao norte, em países onde, até recentemente, a produção de vinho era quase inexistente. A Dinamarca, Suécia e Letónia estão a emergir como novas regiões vinícolas, aproveitando os verões mais longos e temperaturas amenas.
Relatórios indicam que várias regiões vinícolas tradicionais estão em perigo. A Borgonha e a Champagne, bem como partes da Itália, enfrentam riscos significativos, incluindo secas extremas e alterações nos ciclos de maturação das uvas.
Na Escócia, já se produz vinho, mostrando que a viticultura pode ultrapassar limites geográficos tradicionais. O sul de Inglaterra tornou-se um foco de interesse para marcas de champagne, para produção de espumantes, refletindo a prevenção dos grandes produtores mundiais a novos cenários climáticos.
É crucial que todos nós compreendamos que as alterações climáticas não são algo para o futuro. A prevenção deve começar agora. Todos os envolvidos na cadeia de produção de vinho têm de olhar para este novo contexto e trabalharem em conjunto estratégias de futuro. A sustentabilidade deve ser uma prioridade, com a adoção de práticas agrícolas mais responsáveis, devemos conhecer profundamente o ADN das nossas castas para as protegermos, promovendo uma maior consciência sobre o impacto das nossas escolhas na altura de produzir vinhos.
A viticultura não é apenas uma questão de produzir vinho; é uma questão de preservar um legado cultural e histórico. A urgência de agir é clara: precisamos estar cientes das mudanças que estão a acontecer e trabalhar juntos para garantir que as futuras gerações possam continuar a desfrutar dos vinhos extraordinários que Portugal produz. Sendo, também, uma luta de todos, devemos criar uma comunidade unida na luta pela preservação do nosso planeta e do nosso precioso vinho.
Claúdio Martins,
consultor de vinhos, CEO da Martins Wine Advisor