Em 2024, assistimos ao crescimento de uma tendência que, embora discreta, tem vindo a marcar presença de forma incisiva no mundo do design e da moda: o luxo silencioso ou “quiet luxury”. Esta corrente, que contrasta com a grandeza e o brilho do luxo tradicional, propõe uma nova forma de valorização do que é raro e precioso – sem excessos, sem exibições ruidosas. Mas será que este “silêncio” também chegou ao mercado imobiliário?
O conceito de “luxo silencioso” parece ter sido feito à medida de um mundo pós-pandémico que, depois de tempos de incerteza, procura refúgio no essencial e na qualidade que perdura. As peças de vestuário mais cobiçadas já não são aquelas que gritam com logotipos evidentes, mas sim as que murmuram através da perfeição dos materiais e do corte impecável. E o mesmo parece estar a acontecer nas casas de alto padrão.
No setor imobiliário, o luxo silencioso manifesta-se na valorização de elementos que, à primeira vista, podem parecer simples, mas que, na verdade, escondem uma complexidade e uma sofisticação incomparáveis. São os espaços pensados para um usufruto real e adaptado àquilo que mais importa, onde o supérfluo não tem lugar. São localizações especiais, raras, em que a arquitetura aproveita ao máximo as vistas e a luz, procurando uma integração na paisagem, seja ela urbana ou campestre. São casas onde o minimalismo não é um capricho, mas uma escolha pensada e onde a ausência de excessos decorativos abre espaço para o que realmente importa: a luz natural, os materiais escolhidos a dedo, o design e a arquitetura que convidam ao bem-estar e a um estilo de vida elevado. Este tipo de luxo não é definido pelo seu preço, mas sim medido pela qualidade intemporal de um número cada vez menor de diferentes materiais e pela combinação de funcionalidade sem sacrificar a beleza, quer natural, quer “artificial”. O luxo silencioso no imobiliário é, por assim dizer, a arte de criar espaços que não precisam de se afirmar para serem percebidos como verdadeiramente luxuosos.
Mas será que esta tendência minimalista veio para ficar? É provável que sim. Numa sociedade cada vez mais saturada de informação e estímulos visuais, o luxo silencioso no imobiliário pode muito bem ser o reflexo de uma nova era, onde o valor de uma casa é medido pela qualidade da experiência que ela proporciona e não pela quantidade de metros quadrados ou de dourados nos acabamentos. Além disso, esta pequena “revolução” alinha-se com tantas outras tendências contemporâneas, como o design biofílico, que integra elementos da natureza nos espaços interiores, ou a arquitetura sustentável, que compartilham uma filosofia comum: a de que menos é mais e que o verdadeiro luxo reside na simplicidade e na durabilidade.
O luxo silencioso no imobiliário é mais do que uma tendência; é um sinal dos tempos. Representa uma forma de viver que privilegia a tranquilidade, a discrição e a qualidade, e talvez, mais do que nunca, esta seja uma abordagem de luxo que todos deveríamos procurar – não só nas nossas casas, mas também nas nossas vidas.
Rafael Ascenso,
Founder e Partner da Porta da Frente Christie’s