Com mais de 20 anos de carreira, aprendi, muitas vezes da maneira mais difícil, que tudo está interligado no mundo moderno do trabalho: fundar um negócio, ser mãe, companheira e feminista. Aos 27 anos deixei o meu emprego na Vogue britânica para co-fundar uma empresa com um estilista londrino chamado Jimmy Choo. Enquanto lá estive, negociei a venda da empresa por três vezes a investidores de private equity e foi precisamente numa das vendas que, no meio da papelada do negócio, fiquei a saber que recebia menos do que os homens que trabalhavam para mim. O meu salário, na qualidade de directora criativa e co-fundadora, era comparativamente inferior ao de outros executivos de topo.
Quando confrontei a administração, dei por mim a fechar a minha primeira negociação salarial. Depois dessa houve várias, de cada vez que a empresa era vendida a investidores de private equity que detinham o negócio, e com as equipas que fui construindo. Disseram-me “não”. Disseram-me que as acções da minha própria empresa, que eu tinha comprado com o meu dinheiro, faziam parte do meu pacote salarial. Fui julgada, e até penalizada, só por levantar a questão. Eis o elefante na sala do feminismo: podes trabalhar tanto e tão bem como qualquer homem, mas não peças algo que não te querem dar.
“Quero propor um desafio a todas as mulheres que lerem este artigo: sejam donas da vossa voz”.
Nos EUA, em média, as mulheres ganham 0,80 cêntimos contra um dólar, comparativamente aos homens. A diferença salarial estreitou 0,22 cêntimos desde o Dia da Igualdade Salarial em 1963 e, a manter-se o ritmo actual, serão precisos mais de cem anos para fechar este hiato. No dia-a-dia é fácil esquecermo-nos de que estes números não são inócuos. Isto não vai mudar a não ser que nós, mulheres, mudemos este estado de coisas. Negociar a remuneração a que temos direito é um assunto que não pode ser escamoteado e tratado à porta fechada. Não há uma fórmula mágica para pedir mais dinheiro, respeito ou apoio. Por isso, quero propor um desafio a todas as mulheres que lerem este artigo: sejam donas da vossa voz.
Sempre nos ensinaram que é deselegante falar de dinheiro. É preciso fazer perguntas e ser honesta. Comece por abordar vários assuntos e por perguntar se as pessoas que trabalham na sua área profissional, na sua indústria, conhecem os valores salariais de funções comparáveis. Quando se sentir preparada (e não há mal nenhum se precisar de algum tempo até se sentir preparada), avance. Mas não se esqueça que negociar um aumento não é o mesmo que fazer uma lista de todas as coisas que já alcançou. A ideia é falar sobre o seu contributo para a equipa (qualidades pessoais), a sua capacidade de ir mais além (exceder as funções desempenhadas), e sobre os projectos que, num futuro imediato, vão contribuir para o seu enriquecimento profissional. Antes de falar em números, faça um balanço mental para perceber como contribui para o dia-a-dia do seu superior.
Sempre me senti inspirada pela complexidade das mulheres: somos empáticas e cruéis, leais e independentes. Conseguimos ser, ao mesmo tempo, sensuais, inteligentes, poderosas e protectoras, bem como decididas. Não nos justificamos, somos emancipadas. E só quando somos donas da nossa própria voz, temos consciência do nosso valor e pedimos aquilo que merecemos é que somos iguais. A indústria do luxo tem sido a minha vida, mas posso garantir-lhe que não tem nada que ver com coisas caras. Luxo é chegar onde nós queremos.