A par de uma procura acrescida por competências técnicas e talento, o advento acelerado da transformação digital, presente em quase todos os setores, trouxe consigo a necessidade reforçada de competências de gestão da mudança.
Por sua vez, esta obrigação de adaptação constante a que as organizações contemporâneas estão sujeitas reflete-se em novas exigências para as lideranças, hoje chamadas a: 1) inspirar equipas multidisciplinares, envolvendo as diferentes pessoas numa visão e propósito comuns para servir melhor o cliente; 2) promover organizações mais horizontais, com equipas mais autónomas; 3) fomentar ambientes colaborativos em que a escuta ativa é um princípio fundamental e se promove a cultura da inovação pelo diagnóstico e correção do erro; e 4) de forma empática, servir, desenvolver talento e garantir condições para que todos otimizem a sua produtividade. Arriscaria dizer que este estilo de gestão é quase intuitivo para o género feminino.
Hoje e cada vez mais, o que realmente importa em funções de liderança é não perder o rumo dos objetivos e orquestrar uma equipa que os consiga alcançar. Um bom líder deve empoderar as pessoas, articular uma visão e propósito comuns, servir apaixonadamente, ser empático, auscultar todos os stakeholders, promover o coaching, desenvolver o talento, inspirar a ação, tomar decisões e ser responsável por elas, sabendo, acima de tudo, partilhar as conquistas e o sucesso.
É igualmente importante que os gestores tenham em mente os benefícios da liderança inclusiva (não só de género, mas contemplando todo o tipo de diversidade) para os resultados empresariais, naquela que é uma evidência destacada em inúmeros estudos no âmbito do ESG. Também por questões de acesso ao financiamento verde, cada vez mais as organizações estabelecem KPI com targets claros de presença feminina em funções de liderança, para assegurar o equilíbrio no processo de decisão e garantir a representatividade democrática na definição de produtos e serviços, que, deste modo, estarão mais alinhados com a real procura e terão maior adesão.
Estão, assim, criadas as condições para que se acelere o caminho para a verdadeira igualdade de oportunidades para as mulheres também no setor tecnológico. Uma conquista também alavancada pelo facto de as start-ups que surgem predominantemente nesta área não estarem condicionadas por modelos mais tradicionais em estilos de liderança.
Atualmente responsável por uma empresa com mais de 50% de cargos de direção no feminino e com a área de Tecnologia entregue a uma Chief Technology Officer, sinto que estou a contribuir também para esta revolução, esperando que, de futuro, não seja relevante falar de liderança feminina, mas apenas de boa liderança.
Filipa Martins, CEO Edenred Portugal