Rui Bento, director-geral da Uber Portugal
Artigo incluído na edição de Fevereiro 2016
Em Achères Yvelines, em França, o dia 17 de janeiro de 1899 não seria uma terça-feira qualquer: o belga Camille Jenatzy tornar-se-ia o primeiro homem a quebrar a barreira dos 100 km/h. Jenatzy chegaria aos 105,9 km/h a bordo do La Jamais Contente, um veículo com uma carroçaria de alumínio e em forma de torpedo. Um veículo eléctrico. Seria a última vez que o recorde de velocidade em terra pertenceria a um eléctrico.
Graças a um conjunto de desenvolvimentos tecnológicos, que culminaram na produção em massa de veículos a gasolina pela mão de Henry Ford em 1913, o motor de combustão interna tornou-se numa opção mais conveniente e economicamente viável. Tornou-se no standard da indústria, um estatuto que não mais viria a perder. Pelo menos até agora.
Ao longo dos anos surgiram várias tentativas para ressuscitar o carro eléctrico até que, nesta última década, o alinhamento de factores ambientais, económicos e tecnológicos começou finalmente a posicionar o carro eléctrico como uma opção real. Elon Musk, presidente executivo da Tesla, prognosticou recentemente que uma autonomia de 200 milhas (322km) seria o limite mínimo para que um carro eléctrico pudesse ser viável. Um prognóstico fundamentado pelo Centro para a Energia Sustentável da Califórnia que, em 2013, determinou que 70% dos consumidores ficariam satisfeitos com um eléctrico com tal autonomia, e apenas 9% se dariam por contentes com 100 milhas.
A vitória do eléctrico será finalmente alcançada quando, dentro de alguns anos, o tubo de escape for olhado de lado.
E assim se iniciou uma corrida ao carro eléctrico de 200 milhas. De um lado, a inovadora Tesla, que lançou em 2015 o modelo X, um SUV de 130 mil dólares e 250 milhas de autonomia, e que prometeu um modelo de 35 mil dólares e 200 milhas para 2017. Do outro lado, os gigantes do sector, que parecem agora seriamente empenhados em ganhar a corrida — a Chevrolet, por exemplo, iniciou 2016 com o anúncio do Bolt, um pequeno carro de 5 lugares que custará 30 mil dólares, e que promete chegar às tão ambicionadas 200 milhas. Este poderá ser o primeiro passo verdadeiramente disruptivo numa indústria dominada por décadas de inovações incrementais. E a vitória do eléctrico será finalmente alcançada quando, dentro de alguns anos, o tubo de escape for olhado de lado. Mas outras disrupções prometem chegar.
Várias empresas automóveis e tecnológicas falam abertamente do veículo autónomo e do seu impacto na indústria. Porém, uma em particular parece ter literalmente passado por cima de tudo isto: a Ehang, uma empresa criada em 2014 com escritórios em Silicon Valley e na China, apresentou recentemente o protótipo de um drone autónomo capaz de transportar uma pessoa durante 23 minutos, bastando para isso apenas introduzir o destino num tablet.
É difícil antecipar tudo o que a tecnologia pode trazer à mobilidade, mas as mais recentes novidades levam-nos a esperar inovações extraordinárias nos próximos anos.