Co-fundador e presidente-executivo da Beta-i
Artigo incluído na edição de Março 2019
Um dos principais desafios que um empreendedor enfrenta é a capacidade de fazer crescer o seu negócio de forma sustentável. É a fase de gazela e de crescimento acelerado a mais desafiante e à qual muito poucos resistem. Para se conseguir crescer de forma sustentável existem três grandes desafios que são necessários ultrapassar:
1) capacidade de se criar uma equipa de liderança em quem se possa delegar de forma previsível;
2) capacidade de criar infra-estruturas escaláveis, sistemas e processos que consigam lidar com a complexidade crescente na comunicação e tomada de decisão das empresas; e 3) capacidade de se ter uma estratégia diferenciadora, capaz de resistir à pressão competitiva que tipicamente reduz as margens.
No entanto, por mais motivação e persistência que tenhamos, a realidade é complexa. E por mais que aprender com os erros faça parte do processo, é determinante sabermos evitar os grandes erros, pelo que é determinante reflectir, planear e executar de forma consistente, e ter em conta que há a possibilidade das coisas correrem mal e, eventualmente, perder dinheiro.
As principais razões porque cometemos erros têm normalmente a ver com generalizações abusivas, com obsessões pessoais, com pressupostos errados ou com a ilusão de que se pode ser bem-sucedido sem trabalho árduo. Ao nível estratégico, é determinante ter uma proposta de valor clara, diferenciadora e relevante para os nossos clientes. Conseguir encontrar o “x-factor”, que nos permita entregá-la de forma muito competitiva (o chamado 10x), e encontrar sempre novas oportunidades para crescimento.
Para isso precisamos de perceber muito bem em que é que somos fortes e estamos motivados a fazer bem, perceber bem os obstáculos das nossas indústrias e as principais dores dos nossos clientes, focar e priorizar de forma clara quais as competências, iniciativas e mercados que queremos desenvolver. A base para o sucesso de qualquer organização está na sua equipa e cultura, e para isso é determinante a definição de valores fortes, a construção de confiança na liderança e na equipa, não ter medo do confronto saudável e de aprender com perspectivas diferentes, ter a capacidade de compromisso com as estratégias definidas para a organização, existir accountability para as principais funções e processos, e ter atenção e foco nos resultados.
Para se manter uma cultura de inovação sustentável, é preciso gerir ambiguidade e complexidade de forma delicada, que consiste em ter tolerância para o erro, mas não para a incompetência, incentivar a experimentação mas de forma muito disciplinada, promover uma cultura onde as pessoas se sintam psicologicamente seguras mas onde todos sejam assertivamente directos e objectivos uns com os outros, promover a colaboração mas com accountability individual, e promover uma cultura horizontal mas com uma liderança forte e clara.
Crescer é um processo duro e complexo, mas se perseguirmos o propósito correcto e com valores fortes, se nos soubermos rodear das pessoas certas e ouvirmos as suas opiniões, bem como as dos nossos clientes, se reflectirmos com base nas aprendizagens e dados relevantes, e se planejarmos e executarmos de forma focada, persistente, mas humilde, “it doesn’t need to be that lonely at the top”.