Director de gestão de activos do Banco Invest
Artigo incluído na edição de Outubro 2018
O ano tem sido marcado pelo aumentar das tensões comerciais entre os EUA e os seus principais parceiros comerciais, com destaque para a China. Após o anúncio do aumento das tarifas sobre 50 mil milhões de dólares de importações chinesas, à presente data paira a ameaça sobre mais 200 mil milhões de importações e a expectável retaliação chinesa. Os objectivos da Administração americana são claros: diminuir o défice comercial com a China (em 2017, os EUA importaram 506 mil milhões de dólares e exportaram apenas 130 mil milhões de dólares), parar a transferência forçada de tecnologia e fomentar mais concorrência às empresas chinesas estatais. Outras frentes cdesta guerra têm sido abertas, com a Europa e a NAFTA.
O Presidente Trump afirmou que “as guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar” e, para já, os EUA parecem estar a levar a melhor. Os índices accionistas S&P-500 e Nasdaq-100 encerraram o mês de Agosto em máximos históricos, impulsionados por bons dados económicos (o crescimento homólogo do PIB acelerou para os 2,9%, no segundo trimestre deste ano), pela recuperação dos resultados das empresas norte-americanas (+25%) e pela valorização das empresas tecnológicas. Pelo contrário, os mercados europeus e emergentes têm sido fortemente penalizados, com perdas de 6% e 10% nos índices DAX-30 (Alemanha) e MSCI Emerging, respectivamente, apesar do bom desempenho económico da Zona Euro (o PIB está a crescer 2,2%) e da turbulência nos mercados emergentes parecer contida à Argentina e Turquia. Porém, estão em causa mais do que questões meramente comerciais. Se tal fosse o caso, muito provavelmente um acordo seria relativamente fácil de atingir. Pelo contrário, as actuais tensões resultam da luta pela liderança estratégica global, que os EUA desejam manter e que sentem ameaçada. A longo prazo, a escalada das guerras comerciais seria negativa para todos, incluindo para os EUA.
Neste contexto, a incerteza (política) continuará elevada, assim como a volatilidade nos mercados financeiros. Os investidores deverão reavaliar as suas carteiras de investimento, mantendo uma perspectiva de médio-longo prazo e uma atenção redobrada na diversificação (atenção às correlações entre activos e mercados). Apesar da fase adiantada do ciclo económico e dos riscos enumerados, a ameaça de recessão permanece baixa a curto prazo. Desta forma, as acções continuam interessantes em termos relativos, ainda que num cenário de maior volatilidade.
Sectorialmente, mantenho no radar os sectores financeiro, em particular no continente europeu, com base nas avaliações atractivas, tecnológico, com um foco na área da segurança, saúde e biotecnologia, telecomunicações e infraestruturas, através de empresas relacionadas com o sector da água. Estes dois últimos sectores têm sido penalizados este ano devido à perspectiva de subida das taxas de juro e necessidades de investimento, mas as respectivas avaliações e o carácter mais defensivo, deverão ajudar em termos relativos.