Director de Gestão de Activos do Banco Invest
Artigo incluído na edição de Setembro 2018
No passado mês de Julho, a sociedade gestora de activos britânica Schroders publicou os resultados do inquérito “Global Investor Study 2017”. Participaram neste estudo 22.100 pessoas provenientes de 30 países, incluindo Portugal, que manifestaram a intenção de investir pelo menos 10 mil euros nos próximos 12 meses.
Os resultados nacionais são muito interessantes e reveladores das contradições com que nos deparamos frequentemente na indústria de gestão de activos. Em primeiro lugar, continua a existir muito trabalho a fazer na formação. A nível global, 88% das pessoas manifestaram o interesse em aprofundar os seus conhecimentos sobre os mercados e produtos financeiros.
Em Portugal, esta percentagem sobe para 91%, sendo os temas mais procurados os relacionados com a eficiência fiscal dos produtos, a alocação de activos e o papel dos vários activos numa carteira global, e os custos de transacção dos vários produtos – os intermediários financeiros têm aqui um papel fundamental no esclarecimento dos investidores, com um esforço crescente de pedagogia e transparência. Em segundo lugar, apenas 23% dos investidores portugueses inquiridos revelam como prioritário diversificar e investir em outros activos financeiros, como por exemplo acções ou obrigações, nos próximos 12 meses. Por sua vez, 29% das pessoas continuará a aplicar as suas poupanças em depósitos a prazo, e 14% planeia investir em imobiliário.
Num cenário de taxas de juro tão baixas e yields do imobiliário cada vez menores, após a rápida subida dos preços verificada nos últimos anos, estas prioridades vêm reforçar a necessidade de mais informação e formação quanto aos benefícios de uma maior diversificação das poupanças, com a inclusão de outras classes de activos, nomeadamente financeiros. Igualmente revelador desta necessidade de mais formação é verificar que apenas 9% das pessoas inquiridas manifestam como prioritário, nos próximos 12 meses, investir na sua pensão.
Por último, as maiores contradições reveladas por este estudo são as apresentadas nos seguintes resultados: apesar de 51% dos inquiridos nacionais encararem as actuais incertezas mundiais como oportunidades de investimento, 60% dos mesmos não querem assumir demasiado risco neste momento; enquanto 52% afirma não deixar que a política e os eventos mundiais os desviem dos seus objectivos de investimento, 42% admite ter mais liquidez agora do que no passado. E, apesar do perfil conservador revelado nas respostas anteriores, mais de metade (51%) tem uma expectativa de rendibilidade anual superior a 6%, nos próximos cinco anos (cerca de 38% espera mais de 10%!).
Concluindo, o estudo da casa de investimento Schroders confirma o conflito existente entre o perfil de risco dos investidores e as suas expectativas de rendibilidade no futuro. Cabe aos profissionais da indústria ajustar estas duas realidades, através da construção de soluções de investimento adequadas aos objectivos de cada investidor. A comunicação e a transparência são fundamentais neste mercado.