Quando falamos do Web Summit é fácil deixarmo-nos levar pela grandiosidade dos palcos principais, pelas personalidades do mundo da tecnologia, pelos lançamentos que prometem mudar o mercado e pelas centenas de startups orgulhosas que apresentam os seus produtos pela primeira.
No entanto, a verdadeira essência da semana do evento é encontrada nos corredores menos percorridos, nos encontros fortuitos e nos mais de 180 eventos paralelos que ocorrem durante a conferência, não estando relacionados com a sua organização.
Estes eventos representam uma oportunidade de desenvolver relações e negócios em ambientes mais pequenos, fechados, controlados e selecionados. São eventos organizados por diversas entidades, desde startups inovadoras a empresas de capital de risco já estabelecidas, passando por embaixadas de vários países como, este ano, o caso do Japão ou do Canadá. Os formatos variam, podem ser almoços, jantares, encontros que podem mais formais ou mais informais, ou conferências de menor dimensão onde o futuro da tecnologia é debatido com mais paixão e proximidade.
A variedade é impressionante – existem eventos dedicados a quase todos os setores imagináveis. Para os interessados em impacto social, temos as “Innovation Tracks” na Casa do Impacto, aqueles com um foco em tecnologia financeira podem juntar-se às discussões na “Fintech House”, quem procura transformação digital e inteligência artificial tem eventos com a presença da famosa robot Sophia e quem prefere acompanhar a evolução da internet para a Web3 tem desde a Nearcon, que ocupou o espaço de destaque durante 4 dias antes da Web Summit, até aos eventos da Crypto Mondays ou da Human Protocol. A maioria são gratuitos, mas muitos apenas com convite.
O que torna estes eventos paralelos tão valiosos é a sua capacidade de juntar pessoas com interesses comuns num ambiente mais pessoal e focado. Assim, por exemplo, os fundadores das startups têm a hipótese de se sentar ao lado de investidores num ambiente descontraído durante algum tempo, em vez de andarem a correr entre pavilhões sem fim para se encontrarem com alguém com quem trocaram mensagens.
Não podemos ignorar o facto de muitas das colaborações mais significativas e parcerias de longo prazo terem origem nestas interações menos formais. As histórias de sucesso de muitas startups são frequentemente iniciadas numa conversa informal ou numa troca de cartões num destes eventos. Eventos de maior escala têm tendência a dispersar as pessoas que se perdem no barulho das luzes, da multidão e numa luta incansável de marcas que pagaram para serem vistas e querem o seu protagonismo. O Web Summit começou como um evento pequeno, com as características que hoje têm estes eventos paralelos, mas rapidamente se transformou num enorme negócio que hoje é o centro gravítico desta semana tecnológica em Portugal, e no mundo. Com o aumento do negócio e da componente comercial do evento, vem uma diminuição do seu interesse.
Embora possam não capturar as manchetes estes eventos paralelos são onde o futuro é realmente moldado. É nestes encontros que a comunidade de tecnologia global se encontra verdadeiramente, compartilhando ideias e inspirações para alcançar novas etapas de inovação e empreendedorismo. Parte destes eventos têm também jornadas longas de construção e produto, com os famosos hackathons onde programadores desafiam o tempo para completarem tarefas e ganharem prémios. E a cereja no topo do bolo são as festas que tipicamente surgem no final!
Em resumo, os eventos paralelos do Web Summit são muito mais do que apenas um complemento à programação principal – são antes um reflexo vibrante e essencial do espírito de colaboração e inovação que move a indústria da tecnologia. Como participantes e observadores, devemos reconhecer a sua importância e independência, e aproveitar cada oportunidade para nos envolvermos e contribuirmos para estas poderosas correntes de mudança, não só tecnológica, mas também social e cultural.
Gonçalo Perdigão, Diretor da Algorithm G