Pedro Rocha Vieira, Presidente-executivo da Beta-i
Artigo incluído na edição de Julho/Agosto 2018
“Unicórnio”… Para além de ser um animal mítico (e entretanto também um formato de bóia muito popular), é a designação dada a empresas de base tecnológica, investidas por capital de risco, que ainda não estão cotadas em Bolsa, e que atingem a valorização de $1Bi (os nossos mil milhões). Existem, portanto, várias empresas com um valor superior a $1Bi que não são consideradas unicórnios, por não cumprirem algum destes critérios. A SAP, por exemplo, é a maior empresa tecnológica europeia, com uma avaliação de mais de €104Bi, e não é um unicórnio.
Actualmente, contam-se cerca de 240 “Unicórnios” a nível mundial, com uma valorização conjunta de mais de $814Bi, sendo os 5 maiores unicórnios mundiais a Uber ($68Bi), a Didi Chuxing ($56Bi), a Xiaomi ($46), a China Internet Plus Holding ($30Bi) e a Airbnb ($29,3Bi). Ou seja: três são chineses e dois norte-americanos. Segundo as mais recentes avaliações, os maiores unicórnios europeus, são a Spotify (€11Bi), a Adyen (€5Bi), seguido pela portuguesa Farfetch (€4Bi).
Para se perceber melhor este universo, as valorizações das start-ups são normalmente definidas em cada momento de uma ronda de capital de risco, onde o valor do investimento, comparado pela percentagem de equity distribuída permite chegar à valorização da empresa.
Há várias formas de se chegar a esta valorização, sendo que tipicamente estão relacionadas com múltiplos específicos de cada indústria. Em Portugal já tivemos no passado dois potenciais unicórnios (Altitude Software e TIMwe), que falharam o seu IPO (dispersão do capital em Bolsa) por pouco. Actualmente temos a Farfetch (que está em linha para uma potencial IPO em 2019), e mais recentemente a Outsystems, que também tem sido considerada várias vezes para um potencial IPO. Tendo em conta a definição de um unicórnio, e a necessidade de um exit que o consagre, e olhando para as resto do ecossistema de start-ups nacionais (considerando start-ups nacionais aquelas que têm fundadores portugueses e com mais de 50% da sua equipa em Portugal), e tendo em vista as recentes rondas de capital de risco, podemos considerar que a Feedzai poderá provavelmente ser o próximo unicórnio nacional, pois tem conseguido levantar capital com boas avaliações e tem crescido muito em termos de receitas, com custos de aquisição cada vez mais reduzidos e com um valor médio de cliente muito bom – além de apresentar boas perspectivas para um exit, até porque está num sector muito quente.
Além da Feedzai, start-ups como a TalkDesk, a Veniam, ou a Unbabel estão também muito bem posicionadas para se tornarem unicórnios num futuro próximo, por razões semelhantes.
Start-ups como a Uniplaces e a Aptoide são também boas candidatas, mas têm maiores desafios pela frente do que as anteriores, essencialmente ao nível das estratégias de monetização, custos de aquisição de clientes e concorrência.
Olhando para as mais de 80 scale-ups dos últimos anos, podemos acreditar que existirão outros potenciais candidatos, a médio prazo. No entanto, tendo em conta o tempo médio de 5 anos de gestação para um ‘unicórnio’, precisamos de acelerar o passo, não nos esquecendo de continuar a apostar na criação de novas start-ups: em média, para cada um a três unicórnios, é necessário criar cerca de 1000 novas start-ups.