Pedro Neves, Professor da Nova School of Business and Economics
Artigo incluído na edição de Janeiro 2018
Um novo ano traz consigo um novo ciclo e, como tal a possibilidade de construção de um novo futuro, onde a gestão assume um papel cada vez mais relevante, dada a natureza mutável das organizações e a sua ligação íntima com o funcionamento da sociedade civil. Foi precisamente neste sentido que um conjunto de académicos liderados por Colin Mayer, da Universidade de Oxford, se juntou para pensar acerca do futuro da empresa e sobre o papel da gestão na resolução dos grandes problemas do século XXI. Este debate deu lugar a um editorial publicado em 2017 na revista “Academy of Management Perspectives” e do qual gostaria de salientar alguns aspectos que guiaram a minha própria reflexão acerca do tema.
Esta reflexão assenta no facto de a natureza das organizações ter mudado drasticamente nas últimas décadas, com os activos intangíveis (marca, reputação, propriedade intelectual) a ganhar espaço em comparação com os activos tradicionalmente tidos em conta no passado, tais como inventários, edifícios ou maquinaria de ponta. Referem os autores que o impacto destes activos intangíveis no valor de mercado de empresas do índice S&P500 subiu de 10% em 1977 para 84% em 2015, o que demonstra a importância crescente das relações informais, dos contratos psicológicos e da gestão de talento. No entanto, as organizações confrontam-se também com uma crise de confiança institucional resultado, em parte, dos escândalos que a comunicação social vai dando conta em diversos sectores de actividade. A grande pergunta parece ser como colher o contributo positivo que as empresas trazem à sociedade, evitando e minimizando o seu potencial negativo. Colin Mayer salienta quatro aspectos que ajudam a dar resposta a esta pergunta:
- As empresas que enfatizam o seu significado para a comunidade (e não apenas para os clientes) bem como a sua sustentabilidade tendem a ter um melhor desempenho que os seus competidores.
- As práticas de governança que incluem uma atenção particular ao significado e propósito da empresa e que demonstram essa atenção através da avaliação de desempenho e das práticas de RH contribuem para o fortalecimento da relação entre a empresa e a comunidade.
- Os accionistas têm de estar alinhados com o significado da empresa. Sem este alinhamento, as intenções e competência do conselho de administração podem não ser suficientes para criar um clima de empenho e dedicação, encorajando muitas vezes, como efeito secundário, um foco permanente nos ganhos a curto prazo, com implicações para a sua sustentabilidade ao longo do tempo.
- O ecossistema no qual as empresas operam, através de aspectos como normas, legislação e regulação, bem como a relação com outras organizações, incluindo governos locais e nacionais, influencia a capacidade de promover relações interinstitucionais, a inovação e o empreendedorismo e, em última instância, sinaliza a importância que é dada ao significado e impacto do papel do trabalho.
A integração entre todos estes aspectos não é uma tarefa fácil, particularmente porque envolve múltiplos stakeholders guiados por lógicas diferentes muitas vezes contraditórias. Mas é também importante termos consciência de que este alinhamento tem impacto não apenas nos processos internos da empresa, mas sobretudo nos activos intangíveis que a caracterizam e definem aos olhos dos clientes e da comunidade.