Carlos Silva, fundador da Seedrs
Artigo incluído na edição de Maio 2018
O crowdfunding tem-se tornado uma das principais formas de financiamento de causas, ideias, projectos e negócios. Existem hoje inúmeros modelos de crowdfunding, desde os baseados em donativos até aos que assentam em empréstimos ou investimentos no capital social de empresas. Este último denomina-se, na sua origem anglo-saxónica, equity crowdfunding. Como fundador da principal plataforma europeia de equity crowdfunding, a Seedrs, é sobre este modelo que me irei brevemente debruçar. Uma das questões que surge com mais regularidade é porque recorrer ao equity crowdfunding, por oposição aos modelos tradicionais de financiamento.
Neste caso, estamos a falar maioritariamente de start-ups nas suas várias fases de crescimento pelo que os modelos tradicionais são normalmente o financiamento com recurso a business angels ou empresas de capital de risco (VC). Importa, no entanto, realçar que a Seedrs é já hoje o investidor mais activo em start-ups tecnológicas no Reino Unido. A questão é claramente pertinente.
Mas, na minha opinião, é uma questão enganadora, pois pressupõe que um modelo substitui outro quando, na verdade, os modelos são, maioritariamente, complementares. A maioria das rondas de levantamento de capital efectuadas na plataforma, principalmente aquelas acima de 1 milhão de euros, são rondas em co-investimento com VCs e business angels profissionais. Portanto, a questão mais adequada é saber que vantagens o equity crowdfunding acrescenta a uma ronda de levantamento de capital.
A normalização do processo de investimento é uma das vantagens. A Seedrs já executou mais de 600 investimentos e os investimentos efectuados através da plataforma oferecem, quer a investidores, quer a empreendedores, uma garantia de confiança e de que o investimento é feito de acordo com as melhores práticas do mercado. É infelizmente demasiado comum business angels que estruturam o investimento de formas incorrectas e empreendedores que se vêem presos por cláusulas abusivas de investidores.
Adicionalmente, uma ronda aberta a utilizadores, clientes e parceiros permite uma ligação mais forte e próxima com estes actores. Um exemplo foi a ronda angariada pela fintech Revolut, que tendo levantado cerca de 53 milhões de euros de investidores institucionais, levantou também cerca de 4 milhões de euros dos seus próprios clientes através da Seedrs. Os clientes premium do seu serviço tiveram acesso prioritário a esta ronda o que incrementou substancialmente o número destes clientes. Além disso, a ronda teve muita visibilidade mediática.
Por fim, ao adicionar algumas centenas ou milhares de pequenos investidores, a empresa complementa o mentoring dado por um bom VC com uma rede alargada de contactos que têm interesses alinhados com a empresa. Dada a natureza dos investidores em equity crowdfunding estes contactos são regra geral quadros superiores ou executivos de empresas que operam em áreas que podem ser interessantes para a start-up em causa.