Co-fundador da Beta-i
Artigo incluído na edição de Abril 2019
Há uns anos, Bill Burnett, director-executivo da Design School de Stanford, e Dave Evans, de Berkeley, começaram um curso para estudantes de design chamado “Design your Life”, uma superinteressante metodologia de validação sobre como nos preparamos para os desafios da vida. Aconselho vivamente a lerem ou ouvirem, e caso só tenham 15 minutos, há sempre o Blinkist. Por isso, não há desculpas.
Depois de um enorme sucesso em Stanford e noutras universidades, acabou por se transformar num livro de ainda maior sucesso atingindo algo inesperado: apesar de ter sido pensado para estudantes, a verdade é que os autores perceberam que a metodologia servia na realidade para todas as grandes milestones da vida: a entrada na faculdade, o casamento, os filhos, a crise de meia-idade, a reforma.
Ao longo dos últimos dois anos tenho visto um aumento significativo de quadros superiores de grandes empresas ou grandes grupos empresariais a quererem participar activamente no mundo das start-ups e da inovação aberta, e todas as conversas vão bater exactamente no mesmo tema: a crise de meia-idade. Já no passado este processo tinha acontecido, mas mais no lado das start-ups onde a maior parte dos empreendedores eram de dois tipos: o primeiro, os jovens acabados de sair da universidade cheios de vontade de mudar o mundo; e o segundo, quadros de empresa com 10, 15 anos de experiência que conheciam bem o mercado, viram uma lacuna, e um dia acordam e dizem, “é hoje ou nunca”, pois sentem uma vontade de experimentar o lado da criação do seu próprio projecto.
É curioso perceber como agora é o mundo da inovação e da “produtização”, e da rapidez de validação entre soluções de start-ups e problemas empresariais reais. Tornou-se num íman para esta classe de quadros superiores, desejosos de dar rumo à vida e de voltar a sentir algo que há muito parece ter desaparecido. O que é certo é que esta aproximação só tem trazido benefícios, pois trouxe know-how, mudança de cultura, “tradutores” de linguagem corporate para start-ups, rapidez no entender o inside-out das grandes empresas (modelos de negócio, contratos, políticas internas, maiores dores, …), e isso tem ajudado a puxar por um aumento significativo de start-ups B2B (business-to-business) muito mais bem preparadas, focadas no que o cliente pretende, numa linguagem corporate clara e directa. São exemplos disto a Huub, Infraspeak, Attentive, Bitcliq, PakketMail, Probe. ly, TonicApp, SpringKode e a Yoyoloop.
O spill over tem aparecido em muitas áreas, pois o facto de haver uma vontade genuína de sentir algo novo do lado do mundo corporate tem feito com que apareçam muito melhores mentores, advisors, business angels, investidores corporate, company builders, departamentos de inovação aberta dentro dos grandes grupos empresariais, e isso só pode ser benéfico para todos.
Como já dizia o Sam Altman (chairman do YCombinator), o aumento da rede através de uma maior envolvência de todas as partes, agora que o capital e os conselhos começam a ser commodity, parece ser a grande diferenciação do futuro.