O mundo está, finalmente, a ver a importância das siglas ESG e SDG. O primeiro define os princípios para que as empresas operem de forma sustentável, e o segundo, uma iniciativa criada pela ONU para todos e em qualquer lugar do mundo, baseado na cooperação global para um futuro mais justo e sustentável. As duas siglas têm muito em comum, e, cada vez mais, são vistas como prioridade para investidores.
De acordo com um relatório divulgado pela International Federation of Accountants (IFAC) e a Association of International Certified Professional Accountants, pelo terceiro ano consecutivo, mais grandes empresas globais divulgaram questões ambientais, sociais e de governança do que nos anos anteriores, com 95% a fazê-lo em 2021. O aumento é significativo, dado o crescimento de 4% desde 2019.
Outro estudo, realizado pela McKinsey, mostra que os consumidores também estão a exigir padrões ESG mais elevados. Em 2019, cerca de 14% das receitas totais foram controladas por consumidores cujas preferências foram influenciadas pela preocupação com a sustentabilidade.
No entanto, quando falamos de ESG e SGDS, não podemos deixar de mencionar parcerias de todos os membros que compõem uma sociedade – desde a base até o topo. Afinal, para que haja uma mudança verdadeira e estrutural, faz-se necessária uma maior conscientização e participação da sociedade civil.
Abrimos o jornal e somos confrontados com as mais diversas tragédias. São tantas e tão rotineiras que, por vezes, sequer recebem a devida atenção nos principais jornais. Recebemos, muitas vezes, apenas uma visão homogênea e ocidentalizada do que acontece no mundo. Pior. Acostumados com uma enchente diária de tragédias, acabamos, como regra, a ignorar essas notícias, até que aquele problema específico nos afete diretamente. Alguns chegam até a dizer que a “ignorância é uma benção”. Benção ou privilégio?
A resposta é tão simples quanto óbvia: é uma benção se olharmos por um lugar de puro privilégio. Até quando fecharemos os olhos para a realidade? Até quando assistiremos estáticos às mais variadas tragédias? Até quando ignoraremos o coletivo? Se não tomarmos para si os problemas do mundo, apenas por supostamente não nos dizer respeito, continuaremos a propagar uma sociedade cada vez mais injusta e desigual.
Um bom exemplo é compararmos a cobertura jornalística do Titan, submersível que levava bilionários ao Titanic com o naufrágio de uma embarcação com 700 migrantes no mar Mediterrâneo. Ambas resultaram em casualidades, no entanto, os dois episódios mostram a clara desigualdade – até mesmo na mobilização para o resgate das duas embarcações.
Enquanto no primeiro caso milhões de dólares em recursos foram investidos– além, é claro, de uma cobertura jornalística árdua –, no segundo caso, a situação foi diferente. A embarcação com centenas de migrantes vindos do Afeganistão, Síria e Paquistão não rendeu tanto espaço nos meios de comunicação. Diferentemente do caso do Titan, a guarda costeira grega demorou e, segundo relatos, até ignorou os pedidos de ajuda.
A comparação acima ilustra a desigualdade e a injustiça social enfrentada nos mais diversos países do mundo e nas mais diversas situações, bem como a necessidade de mudança imediata. Seriam alguns mais importantes do que os outros?
Em setembro, Portugal sediará o Humanity Summit, evento que reunirá ativistas de direitos humanos, jornalistas, empresários, artistas e políticos com o objetivo de assinar um pacto pela humanidade. Esse, baseado nos SDGS, em parceria com a renomeada Imperial College, em Londres, funcionará como uma resposta para a necessidade de ação imediata, de forma colaborativa e global, nos âmbitos da desigualdade social, pobreza, justiça, migração e meio ambiente.
Tanto essa iniciativa, como tantas outras da sociedade civil, tem por objetivo gerar maior conscientização nos mais diversos âmbitos que formam a nossa sociedade e pressionar os chamados decision-makers por soluções e ações concretas para garantia de um futuro menos desigual e, por que não, de mesmo um futuro, já que os termômetros não nos permitem ignorar a realidade. O caminho, porém, ainda é longo.
Voltando ao título que dá nome a este artigo: permitam-me finalizar com um clichê necessário: para vivermos em um mundo melhor, temos que agir, e logo. Clichês não são clichês sem razão. A mudança tem que estar na agenda da sociedade civil. É preciso um agir conjunto e constante para mudar o cenário em que vivemos. Desta forma, poderemos pressionar líderes para a criação políticas públicas mais eficazes que visam uma mudança na base e não apenas para alguns. Precisamos de um pacto global e de maior colaboração e, mesmo sendo um clichê, é necessário ouvi-lo.
Marina Guimarães ,
Analista política, jornalista e colaboradora do Humanity Summit 2023