Numa altura em que o tema sobre a igualdade de género nas empresas e organizações está na ordem do dia, sobretudo pelo que ainda falta implementar, penso ser igualmente importante referir os aspetos positivos já alcançados – sem nunca descurar, no entanto, a importância de continuarmos a falar sobre o assunto, para que cada vez mais mulheres se sintam empoderadas e com condições para assumir lugares de liderança. Falando da minha experiência na área profissional, nunca me senti discriminada ou prejudicada por ser Mulher num setor onde o género masculino domina. Acredito que o nosso valor, a forma diferente de abordar temas e situações, é uma valia para as organizações, sempre com o foco no talento e competência. Valores e aptidões que esses sim, não têm género.
Acredito que a minha boa experiência pode resultar do valor das pessoas e organizações onde me movimentei e também do facto de abranger sobretudo áreas de Comunicação, Marketing e Eventos, onde há mais abertura ao feminino. Fui a primeira mulher diretora de marketing no setor automóvel em Portugal e recordo que tive uma reação positiva. Mas a realidade dos números não é esta – na Grande Conferência da Liderança, foram partilhados os dados do Fórum Económico Mundial, que estima que tenhamos de esperar 151 anos até que se atinja a igualdade entre homens e mulheres no que respeita à economia e trabalho. As mulheres continuam, ainda hoje, a ter salários inferiores e a trabalhar mais horas, fatores que, segundo o relatório divulgado pela ONU, acentuaram-se com a pandemia, aumentando o desfasamento da igualdade de género, que poderá ter regredido o equivalente a 25 anos.
Segundo o estudo da Diversidade de Género em Portugal da Informa D&B, as mulheres ocupam apenas 28,3 % dos cargos de direção e 26,8% dos cargos de liderança das empresas em Portugal. Apenas 13,1% dos diretores gerais são mulheres e apenas 16,4% dos Presidentes do Conselho de Administração são mulheres. Também os últimos dados recolhidos pela plataforma European Women on Boards (EWON), referem que apenas 7% das empresas na Europa são lideradas por mulheres.
Estes números são muito preocupantes, pois refletem a negação do acesso e da escolha a quem quer desempenhar funções desta natureza, não permitindo a evolução feminina dentro das estruturas para cargos de gestão de topo. O que é importante é que a decisão de progredir ou não seja uma escolha da própria. Também é importante que as Mulheres sejam atentas e solidarias entre elas, como o sexo masculino, tolerantes entre elas, justas entre elas, para não criarem mais dificuldades nesta rota de reconhecimento que peca por desadequada e ter um enorme atraso.
Quando lideramos, quando trabalhamos, o que vale é o que fazemos, as valias do nosso género, do nosso saber, do nosso valor refletido nas propostas, nas decisões e na liderança.
Só dessa forma poderemos ser líderes verdadeiras e reconhecidas, independentemente do género, para não precisarmos mais de continuar a falar destes temas, apesar de ainda faltar muito para que tal aconteça.
Teresa Lameiras, Diretora de Comunicação e Marca SIVA|PHS