A indústria das telecomunicações está num movimento de evolução constante impulsionada pelas necessidades das empresas, dos consumidores e da tecnologia, também elas em mudança contínua. Da renovação dos modelos operacionais, aos canais de comunicação e até às próprias expectativas dos fornecedores de serviços para prosperarem neste ambiente, tudo está em mutação permanente.
As tendências que atualmente dominam este setor, refletem os desafios e as exigências que resultam da transformação digital – e que já vêm de trás, e direcionam a forma como as organizações tiram partido da tecnologia para inovar, para se manterem competitivas e satisfazerem as exigências dos clientes e do mercado.
A pandemia obrigou as empresas e os vários setores de atividade em todo o mundo a reinventarem o trabalho para poderem salvaguardar a continuidade dos seus negócios. O trabalho remoto foi a resposta encontrada. Uma mudança que veio sublinhar o papel crucial das comunicações contínuas e da colaboração no apoio às equipas que trabalham remotamente. Este modelo, que parece ter vindo para ficar, exige que os fornecedores de telecomunicações aperfeiçoem as suas ofertas, introduzindo novas funcionalidades inteligentes e capazes de aumentarem a eficácia da colaboração entre as equipas, na maioria dos casos geograficamente dispersas em múltiplas localizações.
IA: o motor da transformação das telecomunicações
O setor de telecomunicações está a viver uma transformação notável, sustentada pela inteligência artificial (IA). Ao longo deste ano, os algoritmos têm vindo a ser integrados nos vários aspetos que compõem as operações das empresas no setor das telecomunicações. Graças a eles é possível melhorar o nível de eficiência das redes, prever quais os requisitos de manutenção que são necessários, e transformar os serviços de suporte ao cliente. As soluções alimentadas por IA desempenham um papel fundamental na otimização das redes, na previsão das interrupções do serviço e no fornecimento de soluções de manutenção proativas.
Por outro lado, a evolução da automação este ano está a aumentar para níveis sem precedentes, marcados pelo advento da hiperautomação, que permite às empresas obterem reduções de custos significativas e que podem ir até aos 30%. Esta tendência transformadora integra a automação robótica dos processos (RPA) com a inteligência artificial (IA) e o machine learning, simplificando processos de negócio complexos e aumentando os níveis de eficiência e precisão. As empresas estão também cada vez mais a considerar a adoção de processos de tomada de decisão orientados por IA, aproveitando a análise dos dados para permitir que as escolhas sejam mais rápidas e informadas.
Experiência do cliente: equilíbrio entre automação e interação humana
A omnipresença da IA nas telecomunicações é inegável e o seu impacto nos serviços de rede deverá intensificar-se ainda mais até ao final deste ano. Desde logo, porque as empresas dedicadas à tecnologia de IA estão a investir fortemente em soluções automatizadas de atendimento ao cliente, com o objetivo de oferecerem interações contínuas e mais eficientes (segundo a iShares, 70% das empresas têm mesmo planos para aumentar os investimentos em IA ao longo de 2024.) Além das interações com o cliente, a influência da IA estende-se igualmente a outras áreas, incluindo a otimização das redes, a manutenção preditiva e a inteligência conversacional.
É crucial encontrar um equilíbrio entre as interações humanas e as de IA, de forma a otimizar as experiências dos clientes. Porém, assistentes virtuais, chatbots e plataformas de IA conversacional desempenham um papel cada vez mais relevante na transformação da infraestrutura digital das empresas e na redefinição das relações com os clientes.
É igualmente vital que as empresas identifiquem agora quais são as áreas mais adequadas para a implementação da tecnologia de IA nas suas organizações e atividades. O objetivo é que, ao fazerem-no, garantam a simplificação das operações, aumentem os níveis de eficiência e que, consequentemente, se possam focar nas suas principais competências. Desta forma, estarão a criar mais valor, libertando um potencial de inovação e de crescimento capaz de assegurar a sustentabilidade dos seus negócios.
5G: Libertar o poder da conectividade
Outra das grandes tendências no mercado de telecomunicações é a adoção generalizada da tecnologia 5G. Apesar de todo o seu protagonismo no setor há já algum tempo, a necessidade de ligações seguras e de mais largura de banda acentuou-se consideravelmente nos últimos anos. Espera-se agora que a adoção generalizada do 5G venha a ter um impacto significativo no mercado das telecomunicações, fazendo emergir novas aplicações e serviços, e expandindo a conectividade a áreas/regiões que até à data pouca ou nenhuma cobertura possuem.
Por outro lado, a Internet das Coisas (IoT) continuará a crescer rapidamente, prevendo-se que o número total de dispositivos IoT conectados venha a crescer mais 16%, para os 16,7 mil milhões em todo o mundo. Um fenómeno pelo qual a tecnologia 5G será a principal responsável. A IoT vai também contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas e permitirá que as empresas aumentem os seus lucros e melhorem a sua gestão. O 5G irá disponibilizar a largura de banda e a baixa latência necessárias para suportarem o grande número de dispositivos IoT que se deverão vir a ligar às redes nos próximos anos.
Integridade dos dados e cibersegurança são essenciais
A integridade dos dados e a cibersegurança tornaram-se ainda mais importantes nos nossos dias, dado que os fornecedores de serviços de telecomunicações têm vindo a adotar de forma crescente as tecnologias abertas e a computação na nuvem. Se a isto acrescentarmos a explosão do IoT – que abriu novas oportunidades para os cibercriminosos explorarem dispositivos menos seguros e lançarem novos ataques, compreendemos que a criticidade destes aspetos passou a ser exponencial.
As empresas de telecomunicações, enquanto responsáveis por manterem o mundo conectado, lidam com enormes quantidades de dados pessoais. Uma característica que transforma este setor num terreno fértil para os ciberataques, nomeadamente para a pirataria informática e para o spam.
Num dos seus relatórios recentes, a Gartner previu que ao longo de 2024, as empresas de telecomunicações iriam aumentar os seus investimentos em segurança, com especial foco na tecnologia de blockchain. No seu CIO and Technology Executive Survey de 2024, a Gartner revelou que 80% dos CIOs que inquiriu afirmaram que iriam aumentar os gastos com segurança este ano. O blockchain provou ser eficaz para melhorar as experiências dos clientes, reforçar a segurança da gestão dos contratos e para tornar mais robusta a verificação de identidade.
Também neste âmbito, o Secure Access Service Edge (SASE) é cada vez mais importante, impondo-se inequivocamente como a estrutura de segurança de redes preferida pelas empresas modernas, dado que integra os princípios de Zero Trust e a prevenção avançada das ameaças, protegendo os dados e os ativos das empresas. Modelos simplificados de implementação e de pricing tornam o SASE acessível a organizações de todas as dimensões. Motivos pelos quais se espera que até ao final desde ano 40% das empresas passe a ter estratégias claras para a adoção do SASE, contra 1% em 2018 (Gartner). O SASE é cada vez mais imprescindível para garantir a segurança das arquiteturas de rede modernas, num contexto em que o trabalho remoto se torna mais permanente e em que a adoção das aplicações baseadas na cloud se multiplica continuamente.
Sustentabilidade: passar à ação
Num contexto marcado pela instabilidade económica, pelas tensões geopolíticas acrescidas e pelas rápidas mudanças tecnológicas, a sustentabilidade transcendeu o domínio dos chavões e transformou-se numa prioridade, capaz de moldar a trajetória da transformação digital. A integração de práticas ambientalmente conscientes e sustentáveis nas estruturas estratégicas das empresas está a aumentar de forma significativa. Esta mudança engloba a adoção de tecnologias amigas do ambiente, a implementação de medidas de eficiência energética e a promoção de iniciativas de responsabilidade social. A transformação digital sustentável não é apenas uma responsabilidade, é um imperativo estratégico que fomenta vantagens competitivas num mundo cada vez mais preocupado com a questão da gestão ambiental e das alterações climáticas, a que já ninguém pode ficar indiferente.
Navegando no futuro: agilidade, inovação e segurança
O setor de telecomunicações está pronto para um período de transformação significativa que já está a acontecer ao longo deste ano, e que deverá continuar nos próximos. Agilidade, inovação e segurança, são três aspetos essenciais que se afirmam quer como pilares, quer como catalisadores desta profunda metamorfose que estamos a viver e que é impulsionada por uma poderosa convergência de múltiplas forças disruptivas. Ao adotarem-nos, as empresas de telecomunicações reforçam o seu posicionamento para serem bem-sucedidos neste ambiente dinâmico e complexo.
Ao adaptarem-se continuamente à evolução da procura, ao desenvolverem soluções inovadoras e ao darem prioridade à cibersegurança, as empresas de telecomunicações continuarão a desempenhar um papel fundamental na definição do futuro da conectividade e na viabilização de uma economia digital mais próspera e sustentável.
A IA generativa, com o seu poder criativo incomparável e capacidade de resolução de problemas tem aqui um papel determinante e desbloqueia respostas e eficiências anteriormente ocultas. A sustentabilidade evoluiu de uma tendência passageira para um paradigma essencial. Neste contexto, o desenvolvimento de modelos de IA dará cada vez mais prioridade à sustentabilidade como princípio fundamental nos processos de tomada de decisão, otimizando a utilização dos recursos, tais como a energia e os materiais.
A transformação digital não é um destino, é uma odisseia contínua, alimentada por tendências inovadoras que, tendo-se afirmado nos anos anteriores, continuarão a ressoar ao longo deste e dos anos vindouros, revolucionando o nosso mundo muito além da nossa imaginação. Enquanto navegam nestes cenários em constante evolução, as empresas devem abraçar esta onda de transformação e adaptarem as suas estratégias para poderem abrir caminho para o crescimento sustentado e para o sucesso.
Carlos Jesus,
Country Manager da Colt Technology Services Portugal & Colt VP Global Service Delivery