Ana Lehmann, secretária de Estado da Indústria
Artigo incluído na edição de Março 2018
Quando Larry Page e Sergey Brin criaram a Google não estavam apenas a lançar um motor de busca: revolucionaram a forma como se pensa e faz marketing. A empresa é hoje um gigante tecnológico. Em múltiplos sectores temos exemplos de start-ups disruptivas que criaram novos modelos de negócio (da Uber ao Airbnb) ou originaram grandes transformações em sectores/mercados/negócios estabelecidos (como a Apple com o iPhone).
É inegável que a tecnologia e a inovação lato sensu estão a mudar a vida das empresas, da economia e da sociedade. Inteligência artificial, blockchain ou Internet das Coisas já fazem parte do léxico empresarial e o conceito de start-up deixou de ser um termo usado apenas numa pequena comunidade para ser abraçado pela comunidade em geral. O reconhecimento do ecossistema deve-se aos nossos empreendedores, que souberam criar projectos de grande sucesso; a eventos como a Web Summit, a Lisbon Investment Summit ou a Porto Tech Hub Conference, que colocaram na luz da ribalta estas nossas novas empresas; e também às políticas do Governo que apoiam o empreendedorismo, através da Estratégia Startup Portugal, da responsabilidade da Secretária de Estado da Indústria, no âmbito do Ministério da Economia.
As start-ups têm desempenhado um relevante papel na transformação da indústria dita tradicional (que prefiro dizer: da indústria orgulhosa da sua tradição), seja através do fornecimento de soluções inovadoras seja através da utilização de tecnologias de vanguarda ou até de aquisições por empresas estabelecidas. Esta realidade é transversal a todos os sectores, com maior tradição ou emergentes.
Veja-se o exemplo da Feedzai, que utiliza inteligência artificial contra a fraude nos pagamentos. E num sector já tão estabelecido como o bancário, o surgimento das fintech traz desafios e oportunidades – e muitos bancos já estão a mudar a sua forma de operar para continuarem competitivos.
Em sectores como o agro-industrial, a utilização da tecnologia blockchain pela Bitcliq, para o rastreio de pescado, ou de big data como a Faarm, que desenvolveu uma plataforma que torna possível a partilha de mais informação sobre os alimentos que consumimos todos os dias, são excelentes exemplos de inovação em sectores tradicionais. Já para não falar da Unbabel, uma start-up que usa machine learning para traduções, ou, na área da saúde, a Peekmed, que ajuda a preparar cirurgias através de modelos a três dimensões, ou da SWORD Health, que criou uma aplicação que permite fazer fisioterapia em casa, apenas para citar alguns casos concretos.
Além das soluções inovadoras que apresentam ao mercado, as nossas start-ups podem ajudar grandes empresas, como PME presentes há mais tempo no mercado, a inovar e a encontrar uma solução fora da caixa para determinado problema; e podem beneficiar da experiência, da rede de contactos, das encomendas e da estabilidade de uma empresa já estabelecida. A ligação entre inovação e tradição, a aplicação de tecnologia e métodos inovadores na nossa indústria, nas nossas fábricas e nas nossas empresas, é uma inevitabilidade e devemos estar preparados para acompanhar a mudança. Do lado das políticas públicas estamos a apoiar essa transição, mas os empresários e gestores também têm de querer que as suas empresas abracem a mudança, e a aproximação ao ecossistema empreendedor poderá contribuir para uma transformação bem-sucedida.