Co-fundador da Beta-i
Artigo incluído na edição de Setembro 2018
Há uns anos, através do Philipp Moehring do Seedcamp, conheci o Pedro Rocha Vieira. Ambos estávamos a tentar trazer o Seedcamp a Lisboa para vir conhecer as start-ups da cidade e ele sugeriu que falássemos. Durante esse ano, ambos tentámos insistentemente que viessem a Portugal mas a única resposta era que Lisboa era demasiado verde, que levássemos algumas start-ups a um evento deles em Barcelona e que não valia a pena insistir.
Fomos a Londres duas vezes para os convencer. Da primeira levámos uma mega nega. Da segunda levámos uma passagem de avião para o Philipp e dissemos-lhe: “vem e se em 24 horas não ficares convencido, não te chateamos mais”. Ele acabou por vir e em menos de um dia confirmou que iria haver um Seedcamp Lisboa nesse mesmo ano. O resultado foi um sucesso e um investimento em 4 start-ups, incluindo a Hole19, a James e a Codacy.
Desde essa vez, todos os anos o Seedcamp voltou a Lisboa, cinco anos seguidos e investiu mais 4 vezes. Essa foi uma etapa importante. Quando começámos a Beta-i, pensámos logo que para construir um ecossistema seria preciso tempo, visão a longo prazo e um esforço conjunto de todos. Foi preciso desenvolver a comunidade (Beta-Talks), organizar os primeiros eventos que inspirassem ideias (Silicon Valley comes to Lisbon e Startup Weekend), motivar a passar das ideias aos protótipos (Beta-Start) e dos protótipos aos produtos (Lisbon Challenge) e conseguir os primeiros investidores internacionais no país (o primeiro Seedcamp). Foi necessário perceber como chegar ao mercado, conseguir investimento, internacionalizar. Mais importante que tudo, foi preciso garantir a participação de todos os players relevantes na construção do ecossistema, as grandes empresas e PMEs, as Universidades e centros de investigação, o Governo e entidades públicas, as indústrias criativas.
Durante todo este período foi importante cultivar as relações entre as pessoas (nacionais e internacionais) – o Philipp é apenas um exemplo no meio de centenas de histórias parecidas. Foi importante incentivar a confiança e mostrar valor. Mais do que o “Business to Business”, é o “People to People” que importa, porque os negócios fazem-se é com as pessoas. E tudo isto leva muito tempo, trabalho, dedicação e persistência. Mas tal como Anna Wintour da Vogue dizia que a edição de Setembro era a mais importante para a Moda, também este Setembro será importante para o empreendedorismo em Portugal, pois representa a sua próxima etapa, em que acontecem os primeiros IPOs e as primeiras Exits de valor relevante (a ida para a Bolsa da Farfetch aproxima-se a passos largos).
Portugal ganhará uma nova visibilidade a nível internacional, e um novo tipo de investidores que apenas olha para novas regiões nestas condições. E é também este passo que permite começar a entrar na etapa seguinte, a do “give back”, quando empreendedores que passaram por todo o ciclo percebem a importância dos apoios iniciais e agora estão prontos a ajudar e contribuir de outra forma. É algo que já acontece hoje, numa dimensão menor, mas passa agora a outro nível com mais poder para criar fundos seed e apoiar start-ups, ou criar novos espaços de trabalho para os empreendedores, ou criar escolas de developers, etc.
Há vários exemplos, e ecossistemas maduros como Londres, Paris ou Berlim que passaram pelo mesmo. Nós seguimos uma trajectória semelhante. O que muda em relação ao passado é que agora tudo evolui muito mais rápido. E só tende a acelerar.