Director de activos do Banco Invest
Artigo incluído na edição de Março 2019
Um dos temas dominantes nos últimos meses e comum em praticamente todos os outlooks dos bancos de investimento é o aumento da volatilidade nos mercados financeiros e a perspectiva de um 2019 igualmente volátil. Este é um reflexo dos vários factores de incerteza que persistem, como o abrandamento económico global, as guerras comerciais e o Brexit, entre outros. Nos mercados accionistas, as quedas foram particularmente violentas durante o último trimestre de 2018, com perdas acumuladas de cerca 14%, medidas pelo índice global MSCI World (em USD). Vem isto a propósito de um tópico que considero da máxima importância e que continua a ser muito negligenciado pelos investidores – a importância do horizonte temporal dos investimentos.
Na definição da estratégia de investimento, a identificação do horizonte temporal mais adequado aos objectivos definidos reveste-se de extrema importância. Com efeito, o período ao longo do qual se espera deter um determinado investimento deverá condicionar a alocação de activos, no âmbito de uma estratégia de investimento diversificada.
Tudo o resto constante, quanto maior for o horizonte temporal planeado, maior poderá ser o peso dos activos com risco, sem comprometer os objectivos traçados. Esta realidade, largamente explorada na literatura financeira, tende, no entanto, a ser esquecida, sobretudo, em períodos de turbulência nos mercados financeiros. Nestas alturas, os investidores tendem a sobrepor a emoção à razão, tomando decisões que mais tarde se revelam precipitadas, como por exemplo, “sair do mercado”. A título de exemplo, quem tiver vendido acções europeias em meados de Dezembro perdeu a recuperação de cerca 10% que ocorreu em Janeiro, medida pelo índice Eurostoxx-50.
Por outro lado, o timing de entrada no mercado, embora importante, não é determinante no desempenho da carteira de investimento. Com efeito, analisando a distribuição das rendibilidades obtidas em períodos de 12 meses observamos que: nos últimos 29 anos, por uma carteira constituída por 40% de acções e 60% de obrigações, constata-se que, num total de 337 observações, em apenas 8% das ocasiões este investidor teria registado perdas superiores a 10%.
Também interessante é a assimetria das taxas de rendibilidade obtidas em períodos de 12 meses – a perda média ronda os -7,0% contra um ganho médio de 12,7% nos casos positivos. Bem sei, por experiência própria, que é mais fácil falar do que fazer. As quedas dos mercados podem ser assustadoras, testando até ao limite a nossa convicção e capacidade de resistência.
Daí a importância da definição de um plano e horizonte temporal para o investimento. A volatilidade faz parte dos mercados (esteve foi muito baixa durante os últimos anos) e deve ser aproveitada para reforçar posições consideradas com valor. Mas para tal é necessário ter tempo.