Pedro Neves, professor na Nova SBE
Artigo incluído na edição de Abril 2018
Muito se tem escrito sobre a centralidade do CEO (presidente-executivo) para o sucesso das empresas. Por exemplo, um estudo conduzido por Timothy Quigley e Donald Hambrick e publicado em 2015 no “Strategic Management Journal” mostrava que a sua influência nos resultados das respectivas empresas (com operações nos EUA) aumentou substancialmente desde 1950.
O livro “Strategic Leadership: Theory and Research on Executives, Top Management Teams, and Boards” da autoria de Sydney Finkelstein e colegas (Oxford University Press, 2009) detalha vários aspectos do CEO que influenciam o desempenho empresarial, incluindo características de personalidade, experiências executivas ou remuneração. No entanto, continuam a existir diversas questões por responder relacionadas com o papel do CEO. Uma destas questões foi abordada recentemente por uma equipa de investigadores coordenada por Amy Ou da National University of Singapore num artigo publicado na edição de Março deste ano do “Journal of Management”. Estes autores sugerem que a humildade do CEO, traduzida numa orientação para desenvolver um autoconhecimento mais fidedigno, apreciar as forças e contribuições dos outros e estar mais aberto à ideia de auto-aperfeiçoamento contínuo, pode ser um factor determinante para o desempenho da empresa.
Para estudar este tema, os autores analisaram 105 empresas privadas do sector da tecnologia a operar nos EUA, na sua grande maioria pequenas e médias empresas. Os resultados do estudo confirmaram as hipóteses iniciais: os CEO mais humildes (avaliados pelos CFO [director-financeiro] e não pelos próprios de forma a reduzir os enviesamentos característicos das auto-avaliações) utilizavam mais estratégias ambidextras (combinação entre exploração de novas ideias e melhoria da eficiência dos processos existentes) com um reflexo positivo no retorno sobre activos (ROA) durante o ano seguinte. Estes efeitos positivos na estratégia e no ROA ocorreram devido à melhor integração entre membros da equipa de gestão de topo promovida pela humildade do CEO, reduzindo o foco nos interesses pessoais e lutas de poder e melhorando a partilha de informação e feedback. No fundo, os processos despoletados pela humildade do CEO aumentaram a capacidade estratégica das equipas de topo para lidar com o paradoxo da exploração de novas ideias versus aumento da eficiência, melhorando assim o desempenho da empresa.
Este estudo é interessante na medida em que demonstra que uma característica normalmente pouco associada à posição de CEO pode ser central para o sucesso de uma empresa, pelo menos num sector dinâmico como o tecnológico. Tal como os autores referem, muitas vezes empresas em dificuldades viram-se para CEO de maior destaque esquecendo-se que às vezes esses mesmos CEO se podem tornar parte do problema.
Embora possa parecer contra-intuitivo, partilho da ideia de Amy Ou de que a humildade não é incompatível com estilos ‘fortes’ de liderança: um CEO pode ter sentido de propósito e uma visão de futuro e simultaneamente ter a humildade de receber feedback, compreender os limites do seu conhecimento e integrar as ideias dos outros.