Ricardo Marvão, co-fundador da Beta-i
Artigo incluído na edição de Abril 2018
Em 2009 Satoshi Nakamoto introduziu o paper que revelou a Bitcoin e a primeira blockchain. Em 2014 Vitalik Buterin introduziu o white paper que revelou a Ethereum. Basicamente introduzem um livro aberto e distribuído que pode registar transacções entre duas partes de forma eficiente, verificável e permanente.
Ora, negócios como a Uber ou Airbnb funcionam basicamente como um third party numa transacção entre duas partes, e apesar de parecer que ambas ainda agora chegaram ao mercado e que estão a romper com todo um sector da economia, o seu modelo de negócio poderá vir a ser também ele alvo de disrupção dentro em breve.
A tecnologia e a forma como esta interage com a nossa sociedade e economia está a evoluir a uma velocidade vertiginosa. O que hoje parece seguro como negócio pode, passado pouco tempo, deixar de o ser se quem estiver a liderar o negócio adormecer ao volante e não olhar para o futuro. É por isso importante motivar e cultivar características na nossa economia que nos posicionem como abertos à mudança e à disrupção e não apenas ao business as usual.
Deixo aqui uma colecção dessas características.
Inovar rápido, da base para o topo e experimentar: Se os recursos humanos ou a área financeira são transversais à organização, assim deve ser a inovação. Impulsionada por quem sente os problemas no dia-a-dia, de baixo para cima. A constante iteração para melhorar o produto é a premissa para compreender o mercado e as novas necessidades do cliente, “Desenhar – Construir – Testar –Desenhar – Construir – Testar”
Valorizar o fracasso e recompensá-lo: Viver num sistema de eficiência pura e dura, focado em processos cada vez mais eficientes apenas nos levará à consciencialização de que as máquinas desempenham essas tarefas muito melhor que os humanos. Importa cultivar as características que verdadeiramente distinguem os humanos das máquinas (a criatividade, a imaginação, a curiosidade, a inteligência emocional, …). Para isso não se pode exigir que nunca se falhe, que nunca se experimente, que tudo saia sempre perfeito. Torna-se cada vez mais importante e necessário explorar o potencial humano desse prisma.
Jogar na ofensiva: Ficar em estado de negação em relação ao futuro só porque parece longínquo ou porque lideramos o mercado e a concorrência parece estar longe, não pode ser o modus operandi. Hoje, estar pronto é aceitar que a concorrência pode vir de onde menos esperamos e incentivar uma cultura de experimentação e de inovação torna-se essencial.
Mudar o modelo de negócio: O que funcionou até hoje está constantemente a ser reavaliado e repensado (i.e. o automóvel passa da compra à subscrição), seja por necessidade do mercado, seja por introdução de uma nova tecnologia. O que muda, por exemplo, a forma de avaliar a entrada de novos concorrentes (i.e. custos de entrada alteram-se). São inúmeros os exemplos, portanto é bom estar preparado e ir testando novos modelos.
Criar disrupção a si próprio: Qual é a empresa ou liderança que está disponível para mexer na sua cash-cow? A apresentação de uma disrupção que afecta a área mais rentável da empresa cria rapidamente anti-corpos internos e rapidamente morre à nascença (i.e. a Kodak inventou a máquina fotográfica digital, mas como esse produto iria matar o seu negócio mais rentável, a película morreu na primeira apresentação). Logo, é importante não deixar de ter visão de longo prazo, criando por vezes projectos no extremo da organização para testar e verificar a sua potencialidade em vez de os matar à nascença.