Quando a FLAG abriu portas, há 32 anos, a formação era um processo simples e direto: grupos numa sala, um formador ao centro e um projetor para dar suporte visual. Todos aprendiam da mesma forma, ao mesmo ritmo, com o mesmo conteúdo. Hoje, ao olharmos para o panorama da formação, percebemos que quase tudo mudou. No entanto, o que consideramos tradicional não foi substituído — apenas complementado com novas opções, refletindo as preferências e necessidades modernas.
Os cursos longos, que antes podiam durar semanas ou meses, deram lugar a módulos mais curtos e segmentados. Atualmente, aprendemos aos poucos, com o ajuste da formação ao ritmo das nossas vidas aceleradas. Abordagens como o microlearning oferecem essa flexibilidade. Contudo, não veio substituir as formações profundas; antes, complementa-as, pois permite que a aprendizagem se adapte ao nosso dia a dia, sem perder a profundidade nos momentos certos. É uma evolução que responde à forma como consumimos informação: de forma rápida, fragmentada e, muitas vezes, móvel.
Se olharmos para os formatos de entrega, o modelo tradicional de formação síncrona — com todos no mesmo local, ao mesmo tempo — expandiu-se. Hoje, a formação assíncrona, onde aprendemos a qualquer hora e em qualquer lugar, é uma realidade. O conhecimento deixou de depender de horários fixos e a tecnologia tornou-se num dos maiores aliados. Plataformas digitais, vídeos gravados e inteligência artificial já fazem parte do novo cenário. A flexibilidade da formação assíncrona é inegável, mas o modelo síncrono continua a ser importante. Note-se que nem tudo o que é síncrono precisa de ser presencial. Muitas formações decorrem de forma remota, através de plataformas que permitem interação em tempo real, sem as limitações geográficas. Esta abordagem digital aproxima pessoas de diferentes partes do mundo e combina a conveniência do virtual com a dinâmica do ao vivo. É uma nova maneira de manter a interação e o networking, eliminando a necessidade de deslocações.
O conceito de blended learning também se adaptou aos novos tempos. O que antes era uma simples mistura de aulas presenciais com materiais digitais, hoje é uma combinação mais sofisticada entre o físico e o virtual, o síncrono e o assíncrono. A personalização da experiência formativa permite que cada um escolha o formato que melhor se adapta ao seu ritmo e estilo de aprendizagem. O importante não é o formato, mas a flexibilidade que ele oferece para se ajustar a uma nova realidade.
As metodologias pedagógicas também passaram por uma transformação radical. O modelo expositivo, em que o formador detinha todo o conhecimento, foi substituído por abordagens mais dinâmicas e centradas no formando. Hoje, a formação recorre a técnicas como a aprendizagem experiencial e project-based learning. O foco já não está apenas na aquisição de conhecimento técnico, mas também no desenvolvimento de competências práticas e emocionais. Mas será que estas novas abordagens são necessariamente melhores? Ou simplesmente diferentes? A verdade é que elas não substituem o passado, apenas o complementam. Cursos expositivos continuam a ter o seu lugar, mas agora temos mais opções para adaptar a aprendizagem às necessidades individuais.
O papel do formador, por sua vez, mudou profundamente. Antes, guardião do conhecimento, o formador é agora um facilitador da aprendizagem. Com as tecnologias a fornecerem conteúdos em tempo real, o seu papel deixou de ser somente o de transmitir informação, mas também o de guiar e motivar os formandos ao longo da sua jornada. Esta mudança não diminui a sua importância; antes, coloca novos desafios. Hoje, precisa de dominar as ferramentas tecnológicas e adaptar-se a diferentes públicos, mas a sua capacidade de inspirar continua a ser essencial para criar um ambiente de aprendizagem envolvente.
Se o presente já trouxe uma transformação tão profunda, o que podemos esperar do futuro? A formação será cada vez mais personalizada, com tecnologias como a inteligência artificial a criar currículos adaptáveis ao estilo de aprendizagem e às necessidades de cada indivíduo. O upskilling — a aprendizagem contínua para atualização de competências — tornar-se-á cada vez mais crítico, à medida que os ciclos de vida das competências técnicas se encurtam. A formação imersiva através de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR) também ganhará terreno, o que permitirá uma aprendizagem mais prática e envolvente. À medida que as plataformas digitais se tornam mais avançadas, a barreira geográfica continuará a desvanecer-se, com uma formação crescentemente colaborativa e multicultural.
Apesar de todas estas inovações, o objetivo central da formação manter-se-á: preparar-nos para um futuro em constante mudança. Como resumiu Seymour Papert: “Não podemos ensinar às pessoas tudo o que elas precisam saber; podemos apenas ajudá-las a descobrir por onde procurar”.
Gabriel Augusto,
Diretor da FLAG