Por um lado, o tema mais quente é o tema ´eleições´ e sobre isto tenho uma visão muito particular. A correlação entre a cultura de cancelamento e voto.
Se, por um lado, esta cultura pode ajudar a responsabilizar e educar as pessoas sobre questões sociais importantes, promovendo um mundo mais justo e inclusivo, por outro o seu uso abusivo tem um efeito perverso de limitação da liberdade de expressão, censura das opiniões dissidentes e ser usada para promover intolerância, perseguição e atos de ódio puro, a que tanto temos assistido em todas as esferas. Esta cultura pode inclusivamente destruir vidas e reputação de pessoas inocentes, correndo o risco de estarmos na busca incessante do erro e não dos méritos, como foi para mim o caso polémico da alegada apropriação cultural da atriz Rita Pereira e das suas tranças nas redes sociais.
Ora, acredito que o voto, nos dias que correm, possa ser uma arma contra esta cultura de cancelamento e talvez uma das razões de as sondagens andarem tão desfasadas dos resultados das eleições, como acabámos de assistir na Argentina com a vitória de Milei, do partido “A Liberdade Avança”, ou como em 2016 nos EUA as sondagens davam a vitória à democrata Hillary Clinton com vantagem de 3 a 5 pontos sobre Trump e, no entanto, este ganhou o colégio eleitoral com 304 votos, contra 227 de Hilary. Veremos o que acontecerá em Portugal, nos EUA e na União Europeia, todos com eleições em 2024 e todos com desafios importantes em cima da mesa.
Saindo da política, continuo na política com grande preocupação sobre áreas tão importantes como a educação e a saúde, áreas em crise profunda no nosso país.
Nunca se falou tanto de empatia e acho que nunca vi o mundo tão dividido: nós e eles, os homens e as mulheres, os pais e os professores, o patrão e o empregado, a direita e a esquerda, mudanças climáticas, imigração, identidade de género. Tudo isto são temas que têm gerado mais discórdia, ódio e até guerras tão longe da palavra abusivamente usada em discursos vazios: Empatia.
Tudo isto parece muito negro, mas a parte boa é que empatia aprende-se.
A polarização é um problema crescente em todo o mundo e é resultado das dicotomias políticas, proliferação de fake news, falta de diversidade, representatividade. Esta polarização torna mais difícil às pessoas entenderem-se e relacionarem-se, aumentando o fosso e criando trincheiras.
Para 2024, e se me é permitido pedir um desejo, desejo kindness.
Desejo que todos façam o esforço de marcar um café ou almoçar com alguém com opinião contrária à sua sobre um tema particular e tentem entender o seu ponto de vista.
Parar. Escutar. Olhar.
Pensar e só depois falar e se tiver o que falar, pois o silêncio também anda muito desvalorizado, mesmo que a opinião se mantenha contrária. Respeitar.
O outro desejo que tenho é que todos parem também, mas desta feita para fazer a sua auto reflexão e identificar os seus talentos, que as empresas façam o mesmo com as suas pessoas. E atenção que digo pessoas e não profissionais ou trabalhadores, porque acredito que quando as pessoas conseguirem vir por inteiro para as empresas, elas serão mais felizes e as empresas mais produtivas. A pessoa antes do profissional. Talvez assim as empresas se deixem de queixar tanto da dificuldade de fidelização dos trabalhadores e consigamos reduzir também os níveis crescentes de problemas mentais nas organizações.
No final, resume-se tudo da mesma forma.
Parar. Escutar. Olhar à nossa volta e fazer o mundo melhor em 2024.
Susana Coerver,
Partner Ideators.cc Co Founder Kindology