Rui Bento, director-geral da Uber Portugal
Artigo incluído na edição de Janeiro de 2016
Um amigo dizia-me que um berbequim tem um tempo de vida útil de 18 minutos. Isto significa que, desde que sai novo da caixa até deixar de funcionar, o berbequim só fura efetivamente durante 18 minutos.
Não faço ideia se é verdade. No entanto, não deixa de ser verdade que a maioria das pessoas não precisa de um berbequim, mas sim de fazer um furo na parede. Fará mesmo sentido comprar um berbequim que viverá quase sempre na caixa se puder contratar alguém convenientemente que faça o furo por uma pequena fracção do custo? Ou gastar 20 euros num filme que só irá ver uma vez se tiver forma de o alugar com um toque num botão? Ou investir num automóvel, que passará 96% do tempo estacionado, se puder solicitar um carro pelo tempo que precisa, ou um motorista para uma viagem?
Estas questões têm-se tornado cada vez mais prementes à medida que a tecnologia nos ajuda a contratar serviços e a alugar ativos de forma mais conveniente, fiável e económica. Da mesma forma, a tecnologia também permite que quem tem activos os possa rentabilizar ainda mais, e que os prestadores de serviços possam trabalhar de forma mais eficiente, descobrindo novas oportunidades económicas.
A tecnologia está a criar oportunidades significativas para mais e melhores serviços.
A maioria das pessoas associa estes novos modelos de negócio ao fenómeno da “economia da partilha”, um termo que descreve a forma como o poder distributivo da internet tem vindo a ajudar pessoas a alugar e a vender activos e serviços, e que antes não tinham forma de o fazer, pelo menos não de forma tão fluída e eficiente. Todavia, estes modelos de negócio são também um pilar fundamental da “economia circular”, cujo objectivo é criar um sistema económico sustentável que permite que activos existentes possam ser renovados e reutilizados, reduzindo a pressão pela obtenção de novos recursos e os desperdícios que daí decorrem.
Numa economia circular, para que os activos existentes possam ser reutilizados de forma eficiente, os consumidores devem estar dispostos a consumir serviços que lhes permitam ter acesso a produtos on-demand, em vez de possuir os ativos subjacentes. A verdade é que cada vez mais pessoas estão confortáveis com isto. Diz a PwC, num estudo de 2015, que 43% dos consumidores concordam que ter um activo hoje “é um fardo”. E concordam as múltiplas start-ups que, cada vez mais, assentam os seus modelos de negócio neste novo paradigma económico, em que o que realmente importa é a utilização e não a posse.
Esta é uma era extraordinária, em que a tecnologia está a criar oportunidades significativas para mais e melhores serviços que beneficiam utilizadores, prestadores e a economia como um todo.