Director de gestão de activos do Banco Invest
Artigo incluído na edição de Novembro 2018
No passado mês de Setembro assinalaram-se os dez anos do colapso do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, cujos efeitos provocaram uma violenta crise financeira e económica, que se propagou à Europa originando aquela que ficou conhecida como a crise das dívidas soberanas. Os excessos cometidos no mercado imobiliário norte-americano acabaram por, em 2008, contagiar os mercados accionistas globais, que registaram quedas brutais, e obrigar os governos e os bancos centrais a medidas nunca antes experimentadas, entre taxas de juro cortadas para zero (ou negativas) e bailouts gigantescos de bancos.
Passados dez anos, continuamos com taxas de juro historicamente baixas, em particular na Zona Euro, e a regulação do sector financeiro aumentou significativamente. Hoje, os bancos encontram-se claramente em melhores condições, tanto de liquidez como de capital, e os contribuintes estão mais protegidos face à possibilidade de novos resgates em caso de novas crises financeiras.
O reverso da medalha consiste numa dívida global actual de 247 dólares de dólares, face aos 172 dólares antes da crise (+44%). A dívida pública global subiu 73%, para os 67 biliões de dólares, e não deverá diminuir no curto prazo, considerando que os défices públicos permanecem elevados, na ordem dos 2,9% (ainda que abaixo dos 7,3% registados em 2009). Igualmente assinalável foi o aumento dos balanços dos bancos centrais. Com efeito, nos últimos dez anos, para salvar as respectivas economias e sistemas financeiros, os bancos centrais injectaram uma quantidade enorme de liquidez, através da compra de obrigações e outros títulos de dívida, multiplicando os seus activos em várias vezes.
Por exemplo, no final de Agosto passado, os activos da Fed e do BCE ascendiam a 4,2 biliões e 5,4 biliões de dólares, mais 472% e 241%, respectivamente, face ao final de 2007. Por último, outra importante consequência da crise, e da subsequente forte recuperação dos mercados, foi o aumento da desigualdade da distribuição da riqueza, com tradução política no crescimento dos movimentos populistas. Concluindo, o sistema financeiro global está hoje mais robusto e a regulamentação reforçou a solidez dos bancos. Os estímulos monetários dos bancos centrais ajudaram à recuperação económica e catapultaram os activos com risco, nomeadamente as acções: o índice S&P 500 encontra-se em máximos históricos, num ciclo de subida que dura há 114 meses (o mais longo foi de 147 meses), suportado por bons resultados empresariais e taxas de juro reais perto de zero; mas os mercados europeus e emergentes ficaram para trás e parecem mais baratos, em termos relativos e históricos.
Estará para breve uma correcção? Certamente que existem riscos a monitorizar, como a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Mas, para já, enquanto as taxas de juro reais permanecerem baixas e os resultados a crescer, as acções mantêm-se suportadas. A volatilidade, contudo, deverá aumentar, pelo que é prudente aumentar a liquidez das carteiras.