O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, reiterou hoje os seus apelos por reformas na arquitetura financeira global, sublinhando que um em cada três países em todo o mundo corre risco elevado de uma crise orçamental.
Na abertura do Diálogo de Alto Nível sobre o Financiamento do Desenvolvimento, Guterres advogou que, de todas as questões em discussão durante a 78.ª Assembleia Geral da ONU (UNGA 78, na sigla em inglês), as “finanças podem ser as mais cruciais”, uma vez que é o “combustível que impulsiona” o progresso na Agenda 2030 e no Acordo de Paris.
“Hoje, esse combustível está a acabar – e o motor do desenvolvimento sustentável está a travar, a estagnar e a falhar”, disse António Guterres.
Quando faltam apenas sete anos para 2030 – data limite para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) -, Guterres afirmou que o progresso nas prioridades mais fundamentais da ONU – pobreza e fome – “inverteu-se pela primeira vez em décadas”, lamentando que os compromissos de financiamento climático e de ajuda ao desenvolvimento não estejam a ser cumpridos.
“Existe uma divisão acentuada e crescente entre os países que conseguem aceder ao financiamento em condições razoáveis e aqueles que não conseguem e que estão a ser deixados ainda mais para trás. A lacuna de financiamento dos ODS tornou-se um abismo, estimado em 3,9 biliões de dólares por ano (3,65 biliões de euros anuais)”, indicou.
Países com graves problemas de endividamento
Além disso, os países em desenvolvimento enfrentam custos de empréstimos até oito vezes superiores aos dos países desenvolvidos, naquilo que considera “uma armadilha da dívida”.
“Mais de 40% das pessoas que vivem em pobreza extrema vivem em países com graves problemas de endividamento”, sublinhou.
Apesar de reconhecer “alguns esforços de boa-fé” para ajudar as economias em desenvolvimento a sobreviver a esta crise financeira, o ex-primeiro-ministro português observou que “não são suficientes”.
“É claro que os problemas sistémicos de financiamento do desenvolvimento sustentável exigem uma solução sistémica: reformas na arquitetura financeira global. (…) Reitero o meu apelo a um novo momento de Bretton Woods, em que os países se unam para chegar a acordo sobre uma arquitetura financeira global que reflita as realidades económicas e as relações de poder atuais”, defendeu.
Mas embora estas reformas estruturais sejam essenciais, levarão tempo “e o tempo é curto”, sustentou Guterres, antevendo que a Agenda 2030 possa ficar fora do alcance.
António Guterres pede medidas concretas
Nesse sentido, apelou aos Governos para que apresentem medidas concretas a serem adotadas pelos líderes internacionais, de forma a salvar os ODS.
“Exorto-vos a utilizar este Diálogo de Alto Nível como uma plataforma para um envolvimento construtivo, com foco em soluções de financiamento criativas e práticas que possam ser levadas adiante nos próximos meses e anos”, disse, dirigindo-se aos líderes presentes na sala.
“Juntos, devemos transformar este momento de crise num momento de oportunidade, encontrar soluções de financiamento conjunto para reconstruir a solidariedade global e criar um novo impulso para o desenvolvimento sustentável e a ação climática”, concluiu.
Este evento a decorrer na sede da ONU, e convocado logo após a Cimeira dos ODS, visa proporcionar liderança política e mobilização de recursos para os ODS, assim como identificar progressos e desafios emergentes.
Lusa